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MULHERES DA AQUICULTURA – “Gosto muito de ser pesquisadora científica”, diz Cristiane R. Pinheiro Neiva, diretora do Instituto de Pesca
Data de Publicação: 21 de junho de 2023 10:55:00 A entrevistada desta semana, na série “Mulheres da Aquicultura”, é a pesquisadora Cristiane R. Pinheiro Neiva. Nesta entrevista, ela evidencia, com muito amor pelo que faz, toda a sua visão para o melhoramento e o desenvolvimento da pesca e aquicultura no Brasil #entrevista #mulheres da aquicultura #cristiane rodrigues pinheiro neiva #cristiane rodrigues #pesca e aquicultura #instituto de pesca #empoderamento #liderança da mulher
Por Antônio Oliveira
A cada entrevista com lideranças da aquicultura brasileira – desta vez com mais outra que pesquisa e melhora a pesca e aquicultura -, esta série traz um conjunto de conhecimentos e visão empreendedora dessas mulheres, quer seja na administração de empresas, na despesca, na pesca ou na cata de mariscos. A entrevista desta semana, sugerida pela CEO do Grupo Âmbar Amaral (Brazilian Fish), Sônia Âmbar Amaral, é a pesquisadora científica do Instituto de Pesca, Cristiane R. Pinheiro Neiva. São visões amplas, lições de vida e incentivo, principalmente, à nova geração que está entrando nestes dois setores de proteína animal.
Cristiane nos causa admiração pelo seu conhecimento comercial e tecnológico da pesca e aquicultura brasileira, área que, conforme ela, gosta muito: “São quase 30 anos já... E o que mais gosto é trabalhar com o pescado. Sempre trabalhei com o pescado, independentemente de ser da cadeia produtiva da pesca ou da aquicultura, mas considerando todas as especificidades das cadeias produtivas, tanto do cultivo como do extrativismo”.
Mostra a sua visão sobre o potencial da pesca e aquicultura do Brasil: “A aquicultura mundial apresentou crescimento exponencial nos últimos anos. Porém, este crescimento foi concentrado em países asiáticos, principalmente na China. A aquicultura brasileira é apontada como grande potencial global de crescimento fora da Ásia. Somos o único país com condições de fazer frente à produção aquícola chinesa. Provavelmente, seguiremos o caminho já trilhado com sucesso por outras modalidades de produção de proteínas animais, nas quais já figuramos entre os principais produtores globais a partir de um intenso crescimento em poucas décadas”.
Entusiasta do processo CMS (carne mecanicamente separada) aponta: “Atuando na pesquisa com a tecnologia de CMS de pescado, defendo que esta apresenta o perfil para ser disruptiva, pois poderá melhorar a performance de produtos já estabelecidos, introduzindo produtos com novas características no atendimento a demandas por produtos saudáveis, práticos, de menor custo, isentos de espinhas e ossos, proporcionando alimento seguro e de ótima qualidade, inclusive para crianças e idosos, além da versatilidade para compor os produtos read-to-eat ou pronto para o consumo, como hamburguers ou medalhões, almondega, quibe, formatados, empanados e embutidos.
É mais uma grande entrevista.
"Me defino como uma pessoa comprometida com tudo que faço e acredito que só
com muito trabalho conseguimos realizar nossos sonhos"
(Foto: Acervo pessoal)
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Centro-Oeste Farm News (COFARMNEWS) – Cristiane, para nós, deste site, é um prazer muito grande tê-la como entrevistada desta série, por indicação da empresária Sônia Ambar Amaral, sua antecessora nesta coluna. Preliminarmente, discorra para nós a sua carreira acadêmica.
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva – Busquei a graduação em Ciências Biológicas e desde o início da faculdade comecei a pensar em peixes e vida marinha. Quando conclui a faculdade, fiz uma especialização em Pesca e Aquicultura, momento em que me interessei no pescado como alimento e na sequencia veio o mestrado em Ciências dos Alimentos pela USP onde trabalhei com a tecnologia de carne mecanicamente separada para propiciar melhor aproveitamento do pescado. No doutorado, em Nutrição em Saúde Pública, da USP, desenvolvi produtos à base de pescado prevendo viabilizar a inserção desta proteína em mercados institucionais como o da alimentação escolar por exemplo.
CONFARMNEWS – E como pessoa, como você se define?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva – Me defino como uma pessoa comprometida com tudo que faço e acredito que só com muito trabalho conseguimos realizar nossos sonhos.
COFARMNEWS – Se realiza profissional e pessoal no que faz?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva – Gosto muito de ser pesquisadora científica. No ano que vem vou completar 30 anos como servidora pública – comecei como pesquisadora, em 1994, no Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), no Centro de Tecnologia de Carnes, na Usina Piloto de Processamento do Pescado, que ficava no Guarujá e, em 2000, fui transferida para o Instituto de Pesca, ambos institutos da Agencia Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA ), da Secretaria da Agricultura do Governo do Estado de São Paulo. No Instituto de Pesca, iniciei o Laboratório de Tecnologia do Pescado, do qual fui Diretora Técnica até 2011. Como pesquisadora, atuo essencialmente na área de Ciência e Tecnologia do Pescado, com ênfase em tecnologias que visem o aproveitamento integral, a inovação tecnológica e o desenvolvimento sustentável do agronegócio do pescado, tendo experiência com o controle de qualidade do pescado, tecnologias de processamento, mais especificamente com a tecnologia de obtenção de carne mecanicamente separada (CMS), de pescado e desenvolvimento de novos produtos que visem o aproveitamento de subprodutos da industrialização.
COFARMNEWS – São vinte anos dedicados a pesca e a aquicultura. Qual destes dois segmentos você mais gosta?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva – São quase 30 anos já... E o que mais gosto é trabalhar com o pescado (fala, enfatizando a proteína). Sempre trabalhei com o pescado, independentemente de ser da cadeia produtiva da pesca ou da aquicultura, mas considerando todas as especificidades das cadeias produtivas, tanto do cultivo como do extrativismo.
COFARMNEWS – Você trabalha num instituto muito respeitado no estado de São Paulo, o Instituto de Pesca. Como tem sido o trabalho desta instituição para o desenvolvimento da pesca e da aquicultura paulistas?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva – Tenho muito orgulho de estar no Instituto de Pesca, instituição onde comecei como estagiária. O nosso “Pesca”, como chamamos com carinho, é um grande instituto que tem como missão promover soluções científicas, tecnológicas e inovadoras para o desenvolvimento sustentável da cadeia de valor da pesca e aquicultura, seja em São Paulo ou no Brasil, sendo um parceiro estratégico da cadeia do pescado para torná-la mais competitiva e sustentável.
O Pesca tem um papel fundamental no desenvolvimento da pesca e da aquicultura em nosso país, desde sua fundação, em 08 de abril de 1969, o Instituto tem sido um grande exemplo de dedicação, comprometimento e excelência em pesquisa e inovação. Seus pesquisadores e técnicos têm trabalhado incansavelmente para desenvolver novas tecnologias, métodos e técnicas de manejo, com o objetivo de garantir uma produção sustentável e de qualidade.
COFARMNEWS – Quais os reflexos da atuação do Instituto de Pesca na pesca e aquicultura de todo o Brasil?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva - Graças ao trabalho do Instituto de Pesca, muitos produtores têm melhorado sua produção, aumentado a qualidade de seus produtos e, consequentemente, sua renda. Além disso, o Instituto tem desempenhado um papel importante na conservação das espécies e dos ecossistemas aquáticos, por meio de estudos e pesquisas que buscam entender e minimizar os impactos no meio ambiente.
Outra importante contribuição do Instituto de Pesca é na formação de recursos humanos, tanto com a Pós-graduação, com o Mestrado em Pesca e Aquicultura, como nos cursos de extensão que têm formado e capacitado muitos pesquisadores, técnicos e produtores ao longo dos anos, contribuindo para a formação de uma mão de obra qualificada e para o desenvolvimento da ciência e tecnologia em nosso país.
Gostaria de mostrar cada conquista, projeto e ação do “Pesca” em prol do setor produtivo da pesca artesanal, industrial e amadora, da aquicultura e dos recursos hídricos, fonte de toda a vida. Há tanto o que mostrar destes 54 anos.
COFARMNEWS – Há uma interação entre o Instituto de Pesca e outros institutos públicos e privados Brasil a fora – a exemplo da Embrapa Pesca e Aquicultura -, no desenvolvimento da pesquisa e melhoramento de espécies de água doce e água salgada?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva – Sim. Temos projetos em conjunto com diferentes universidades, instituições e também com o setor privado. Essa aliança é muito importante porque é uma oportunidade ímpar de aproximação com o setor produtivo, entidades parceiras e governamentais. Desta forma a pesquisa foca nas reais dificuldades do setor produtivo e estabelece soluções a curto, médio ou longo prazos, ressaltando a importância da transferência de tecnologia para o sucesso do setor.
A aproximação da pesquisa com o setor produtivo, é desejável para que os tópicos mais relevantes para a expansão da aquicultura no estado de São Paulo possam ser feita de forma economicamente robusta, sustentável do ponto de vista ambiental e com melhoria contínua da qualidade da produção.
A aproximação com o setor produtivo representa também uma melhor perspectiva de eficiência da aplicação dos recursos públicos disponíveis para financiamento da pesquisa, assim como abre a possibilidade de sinergia com os recursos que são continuamente aportados pelo setor privado na pesquisa e desenvolvimento. Vale destacar a complementaridade entre os investimentos mais pesados e de longo prazo feitos pelo setor público com a agilidade em resolver problemas e eliminar gargalos típicos do setor privado.
Destaque também tem que ser dado as nossas parcerias em eventos estratégicos como é o caso do Seafood Show Latin America, que irá ocorrer aqui em São Paulo, e do Aquishow, que este ano chegou em sua 12º edição, e foi realizado pela segunda vez em nossa casa, no Centro Avançado de Pesquisa e Desenvolvimento do Pescado Continental, unidade do Instituto de Pesca em São José do Rio Preto, mostrando a importância do nosso Instituto como parceiro fundamental no desenvolvimento da Aquicultura Paulista e por que não dizer da Aquicultura Brasileira.
CONFARMNEWS – A pesca e a aquicultura em todo o mundo têm um compromisso muito grande com a segurança alimentar do Planeta. Acredita que Estado brasileiro e a iniciativa privada estão trilhando caminhos certos para corresponderem com esta expectativa?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva - A aquicultura mundial apresentou crescimento exponencial nos últimos anos. Porém, este crescimento foi concentrado em países asiáticos, principalmente na China. A aquicultura brasileira é apontada como grande potencial global de crescimento fora da Ásia. Somos o único país com condições de fazer frente à produção aquícola chinesa.
Provavelmente, seguiremos o caminho já trilhado com sucesso por outras modalidades de produção de proteínas animais, nas quais já figuramos entre os principais produtores globais a partir de um intenso crescimento em poucas décadas. Este potencial já foi reconhecido pelos maiores produtores nacionais, que tem investido intensivamente no setor e proporcionado crescimento consistente por muitos anos seguidos, mesmo em tempos de crises financeiras e baixo crescimento da economia.
O agronegócio (de proteína animal), em geral, concentra-se em poucas espécies de relevância internacional no caso de suínos, bovinos e aves, espécies que constituem commodities comercializadas em escala global por sua facilidade de produção e vantagens competitivas na produção e consumo. Os mercados globais pedem uniformização e padronização dos produtos como pré-condição para o ganho de escala. Na aquicultura não é diferente.
Neste contexto, espécies como a tilápia e, talvez, o panga apresentam claro potencial de consolidação como commodities globais e necessitam de investimentos para viabilizar a massificação da produção e ganho de competitividade internacional.
Entretanto, existem espécies nativas do território brasileiro que possuem qualidades excepcionais e enorme potencial de crescimento, tais como os lambaris, os peixes redondos e o pirarucu. São espécies que podem encontrar nichos de mercado muito favoráveis e merecem investimentos em pesquisa e tecnologia para eliminar obstáculos à produção em larga escala e rentabilidade.
Os Institutos de Pesquisa paulistas foram um importante fator para o país se transformar no gigante do agronegócio global que é hoje, e temos o desafio de dar continuidade a este papel, mesmo em um cenário de escassez de recursos públicos que é observado não só no campo da pesquisa, mas em todas atividades do setor público.
COFARMNEWS – Você vê interesse dos jovens, novos acadêmicos, nestes dois setores da produção de alimentos, principalmente no que diz respeito a pesquisa?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva - O estado de São Paulo lidera muitas áreas do desenvolvimento científico e tecnológico na América Latina, uma tradição que se confirmou com o pioneirismo paulista na massificação da produção de tilápias, tendo sido seguido com sucesso por outros estados que hoje até nos superam em volume produzido. Entretanto, os principais investimentos em pesquisa continuam sendo realizados por São Paulo, que permanece como uma fonte de ciência e tecnologia para o país.
A aquicultura brasileira pode esperar um intenso fluxo de informação entre os principais atores do desenvolvimento científico-tecnológico em aquicultura e os agentes de P&D e produtores do setor privado, para aumentar a tecnificação da produção de peixes e outros organismos aquáticos, além da viabilização do ganho de escala e competitividade internacional.
Estamos no momento efetivando os passos iniciais para nos estabelecer como um dos principais exportadores globais de peixes cultivados. O estado de São Paulo conta com situação privilegiada no cenário da pesquisa nacional por contar com os recursos disponibilizados pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), que tem possibilitado a continuidade das pesquisas mais relevantes mesmo em um cenário de muita carência.
COFARMNEWS – Mas você vê o interesse da juventude, de nos acadêmicos no desenvolvimento da pesca e aquicultura?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva – A gente entende que sim. A juventude tem se interessado pela área de pesquisa em aquicultura e, também, em pesca. E uma característica que eu vejo é que são jovens que chegam com uma visão de mundo mais abrangente e mais preparado sob o ponto de vista das tecnologias disponíveis nas áreas de comunicação e de ferramentas de trabalho. Então, eles já chegam com uma envergadura bem diferente. A gente tem sentido isto tanto na busca de estágios que o Instituto de Pesca propicia para quem ainda está na graduação, como também na busca pela pós-graduação. A gente tem sentido esse interesse, mas é um interesse na questão produtiva e com um olhar mais abrangente na sustentabilidade, nos impactos ao meio ambiente. Então, é uma juventude que está chegando com uma envergadura nova e é lógico que a gente sente isto com maior impacto agora, na pós-pandemia, quando as coisas começam a entrar nos seus eixos. A gente ainda continua com pós-graduação que, na sua grande parte, é on line, mas também já temos as presenciais e no envolvimento na pesquisa de laboratório e de campo.
COFARMNEWS – Na sua opinião, qual é a importância deste movimento de mulheres em torno da aquicultura brasileira. As mulheres têm feito um papel importante nesta cadeia produtiva?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva - O movimento das mulheres, seja na aquicultura como também na pesca, principalmente artesanal, tem ganhado merecido destaque, evidenciando méritos conquistados com a força feminina que infelizmente ainda encontra barreiras e descriminação.
COFARMNEWS – E na Academia, qual sua opinião sobre a participação da mulher em cargos de liderança? O equilíbrio entre homens e mulheres tem sido justo?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva - Sinto que a representatividade feminina em lideranças ainda é um desafio e apesar do crescimento nos últimos anos, temos uma tomada de decisão ainda predominantemente masculina, principalmente no âmbito político.
COFARMNEWS – Como Diretora do Instituto de Pesca, qual a sua proposta principal, principalmente no atual momento da pesca e aquicultura brasileiras?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva - Enquanto diretora, tenho buscado demonstrar a importância institucional e o retorno que o “Pesca” dá ao setor produtivo e à sociedade. É incrível como a atuação do Instituto é ampla em tudo que envolve as atividades aquícola e pesqueira, no âmbito social, ambiental, de segurança alimentar, na ciência, na tecnologia e nas questões humanas, nas relações com cada público estratégico. Todos os projetos do “Pesca” contribuem para o alcance dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) mantendo a instituição forte e atualizada para contribuir com o setor!
Tenho bastante satisfação de estar auxiliado a instituição a repensar seu real propósito e sentido de existência, e inspirar o corpo técnico a buscar nossos objetivos e metas e neste ano conquistamos com a participação do corpo técnico o Planejamento Estratégico do “Pesca”, um instrumento que nos ajudará a concentrar esforços em ações estratégicas, a antecipar desafios e identificar oportunidades. E o mais importante que nos traz um senso de pertencimento e conexão com algo maior do que nós mesmos, com o setor produtivo e com a sociedade.
Que possamos continuar trabalhando juntos, governantes, pesquisadores, equipe de apoio, produtores, parceiros e representantes do setor produtivo, em prol do desenvolvimento sustentável da pesca e da aquicultura em nosso país.
COFARMNEWS – Como pesquisadora na área de Ciência e Tecnologia do Pescado, o que você defende para que a pesca e aquicultura tenham melhor aproveitamento? Se perde muita coisa no pescado, sim?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva – Cabe aqui, frente ainda a necessidade da indústria em buscar este melhor aproveitamento de tudo que gera e essencialmente da porção cárnea comestível, rico subproduto. Necessário, também, buscar o estabelecimento de tecnologias inovativas e disruptivas. O termo “tecnologia disruptiva” foi popularizado no Vale do Silício, região onde estão situadas várias empresas de alta tecnologia, na Califórnia (EUA), citada em diferentes setores, incluindo o agro. A ênfase levantada por este termo, evidencia que tecnologias, inovações ou soluções que têm potencial para provocar uma ruptura com os padrões ou modelos já estabelecidos, trazem melhorias na relação custo-benefício dos processos e na sua performance de atuação nos diferentes mercados.
Atuando na pesquisa com a tecnologia de CMS de pescado, defendo que esta apresenta o perfil para ser disruptiva, pois poderá melhorar a performance de produtos já estabelecidos, introduzindo produtos com novas características no atendimento a demandas por produtos saudáveis, práticos, de menor custo, isentos de espinhas e ossos, proporcionando alimento seguro e de ótima qualidade, inclusive para crianças e idosos, além da versatilidade para compor os produtos read-to-eat ou pronto para o consumo, como hamburguers ou medalhões, almondega, quibe, formatados, empanados e embutidos.
Vale ainda esclarecer que algumas iniciativas industriais já realizadas no Brasil, pois a tecnologia de CMS não é nova com os primeiros equipamentos que surgiram no Japão na década de 1940, demonstraram que é fundamental, ainda, estabelecer a padronização do processo e dos produtos gerados, para que somente desta forma, possa se estabelecer e permanecer nos diferentes mercados. A pesquisa científica tem gerado informações técnicas que poderão colaborar com um futuro regulamento de identidade e qualidade para a CMS de peixe, bem como, respaldar as indústrias com informações que possibilitem a padronização dos processos produtivos e a utilização de matérias primas alternativas.
O pescado é protagonista quanto a exaltação das vantagens nutricionais e de saudabilidade, bem como sua praticidade, tanto com produtos frescos como com produtos congelados individualmente ou IQF; tendo acesso as formas de preparo e receitas mais saudáveis como grelhado por exemplo, desmistificando as dificuldades atribuídas meramente ao preparo do peixe inteiro. Desta forma, o investimento em tecnologias disruptivas visando o estabelecimento de produtos de pescado de qualidade, podem contribuir efetivamente para um novo posicionamento do pescado no ranking nacional de consumo de proteína animal, demonstrando que consumir pescado não se restringe apenas as opções: filé ou posta, além de contribuir com o melhor aproveitamento.
COFARMNEWS – Como fazer com que as crianças, principalmente em idade escolar e nas escolas públicas, tenham mais interesse pelo pescado?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva - As preferências alimentares ou rejeições em crianças podem estar relacionadas a vários fatores, dentre eles, os chamados processos associativos, quando a alimentação ocorre em um contexto social e, de fato, desde os primeiros anos de vida as crianças aprendem a associar comida com contextos familiares. Portanto, o processo de aprendizagem/comunicação de como comer de forma saudável é particularmente importante e pode contribuir para o estabelecimento dos padrões de consumo na vida adulta.
COFARMNEWS - O Estado brasileiro (municípios, estados e a União), está correto em sua política de introduzir o pescado nas escolas, restaurantes e hospitais públicos? O que você sugeriria?
Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva - Pesquisa realizada há mais de 10 anos pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), sobre a inclusão do pescado na Alimentação Escolar (AE) já demonstrava uma realidade que em nada melhorou, de que aproximadamente 70% dos municípios brasileiros não incluíam o pescado na alimentação escolar. Dentre as várias dificuldades alegadas, evidenciam-se: dificuldade de acesso aos fornecedores ou ausência destes; falta /ou ausência de produtos no mercado; risco de espinhas; custo elevado e infraestrutura inadequada para estocagem e conservação.
É necessário que o Brasil invista mais em programas efetivos para incluir o pescado na alimentação escolar, fomentando ainda mais a compra de produtos oriundos da agricultura familiar para inserção na AE, com o intuito de valorizar a cultura alimentar local e regional, pois através do emprego de dieta saudável em quantidade adequada, contribuiremos para bons hábitos e aumento do consumo de pescado no futuro.
CONFARMNEWS – Cristiane, grato por esta entrevista, espaço a sua disposição caso queira acrescentar mais informações e peço, como de praxe nesta série, que você indique a próxima entrevista dentro deste contexto de mulheres que fazem o agro brasileiro.
Nota da redação: Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva fez duas sugestões – dois grandes nomes entre as mulheres da aquicultura brasileira - , as quais o site, a partir desta entrevista, acha por bem deixar em of. As duas lideranças sugeridas serão procuradas conforme a ordem de citação da entrevistada.
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