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ARTIGO - Interação genótipo ambiente vantagens para piscicultores com a utilização animais melhorados

ARTIGO - Interação genótipo ambiente vantagens para piscicultores com a utilização animais melhorados

Data de Publicação: 27 de junho de 2024 11:21:00 A interação genótipo-ambiente na piscicultura oferece vantagens significativas aos piscicultores, destacando a importância de utilizar animais geneticamente melhorados para maximizar a produtividade em diferentes sistemas de cultivo

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 A interação genótipo-ambiente na piscicultura oferece vantagens significativas aos piscicultores, destacando a importância de utilizar animais geneticamente melhorados para maximizar a produtividade em diferentes sistemas de cultivo

 

Por SCHLOTEFELDT¹, C; CAMPOS, E.C; CARDOSO, A.J.S; TSUJII, K.M; SIEMER, S. SILVA, P.M.N; BOMFIM, S.C; DE CESARO, E.; RIBEIRO, P, R; DE OLIVEIRA, C, A, L.

 

INTRODUÇÃO

No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Piscicultura (PEIXEBR, 2023) a piscicultura brasileira teve crescimento de 2,3% (860.355 toneladas) no ano de 2022 se comparado ao ano anterior (841.005 toneladas de peixes produzidos). Os motivos para o aumento é a maior apreciação da espécie pelo mercado consumidor e também a expansão para outras regiões do país como a Região Norte.

A espécie mais produzida e está presente em todos os estados do país é a tilápia, sendo o estado do Paraná o maior produtor com 34% da produção nacional que está em 187.800 toneladas (PEIXEBR, 2023). A grande procura pelo cultivo da espécie se dá devido a alguns fatores que se sobressaem quando comparamos a outras espécies, primeiro por possuir maior tolerância ao cultivo em altas densidades de estocagem, baixos níveis de oxigênio na água, diferentes níveis de salinidade, grande rusticidade e alto desempenho (Figueiredo Junior & Valente Junior, 2008; SENAR, 2018).

Diante disso a piscicultura atualmente conta com diversos sistemas de cultivo como a produção em tanques-rede, viveiros escavados, tanques elevados - RAS (Recirculating Aquaculture System), BFT (Biofloc Technology), Aquaponia e cada um deles apresentando variações de densidades de estocagem e produtividade, dependendo das condições ambientais e grau de tecnologia aplicada, em cada uma das regiões do país.

Porém os mais utilizados são produção em tanques-rede e viveiros escavados sendo estes bem distintos em suas peculiaridades. Quanto ao sistema de produção em tanques-rede podemos utilizar uma taxa de densidade maior e tem alta renovação de água, já na produção em viveiros escavados, dependemos do monitoramento diário da qualidade de água, controle de zooplâncton e fitoplâncton. Outro sistema que vem se destacando pela otimização dos espaços e reutilização de água é a produção em tanques elevados, onde se controla de forma artificial, automática ou manualmente a qualidade de água.

O principal desafio dos produtores interessados em impulsionar a produtividade das suas criações está relacionado ao fato do acúmulo de genes de interesse em genótipos ou linhagens especificas (PONZONI et al., 2008). Um aspecto importante para maximização da produtividade tem sido selecionar linhagens que tenham um bom desempenho durante o cultivo em condições ambientais diversas o que chamamos de interação genótipo ambiente (IGA). A IGA foi definida por Bowman (1972) como a alteração no desempenho de dois ou mais genótipos medidos em dois ou mais ambientes. Falconer & Mackay (1996) ressaltam que uma característica, em ambientes diferentes, pode ser considerada como sendo características distintas, pois os genes que a controlam em um primeiro ambiente, podem ser diferentes, pelo menos parcialmente, daqueles que a controlam em um segundo ambiente.

Para a atividade de piscicultura sabe-se que o Brasil é um país que possui uma grande variedade de clima e condições ambientais distintas, as quais implicam no desempenho dos animais e geram diversos efeitos sobre as formas de cultivo. Isso torna imprescindível a avaliação do desempenho dos animais nestes ambientes distintos e verificar a existência ou não da interação genótipo x ambiente (IGA), de maneira a estimar possíveis alterações nas variações genéticas, fenotípicas e ambientais resultando em mudanças nas estimativas desses parâmetros, nas diferentes condições de cultivo, relacionados ao sistema e local de produção.

DESENVOLVIMENTO

            Neste contexto, foram realizados diversos trabalhos pelo grupo de Pesquisa Peixegen da Universidade Estadual de Maringá, testando a interação genótipo ambiente para duas condições de cultivo (tanque rede e viveiro escavado) em seu Programa de Melhoramento de tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus). Oliveira et al., (2013), avaliou IGA em duas regiões do estado do Paraná testando o cultivo em viveiros escavados distribuindo representantes de todas as famílias em ambos os ambientes de avaliação no mesmo período de cultivo, a característica avaliada foi o peso vivo (Figura 1), sendo estimados os componentes de (co)variância e parâmetros genéticos. Os valores de herdabilidade foram 0,71 e 0,72 para as cidades de Palotina e Floriano respectivamente, as correlações genéticas foram fracas (0,12) entre as dois locais, demonstrando que houve uma heterogeneidade de variância fenotípica entre os ambientes testados, isso quer dizer que em função da interação genótipo ambiente existente os animais selecionados devem ser usados apenas nas condições em que foram avaliados.

Foto: Carolina Schlotefeldt

 

Figura 1: Exemplar de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) do Programa de Melhoramento Genético de Tilápia do Nilo da Universidade Estadual de Maringá – PMGT-TILAMAX/UEM.

Em outro pesquisa do nosso Grupo de Pesquisa, Campos et al., (2018) realizaram um ensaio testando IGA em diferentes ambientes de cultivo tanque-rede na localidade de Diamante do Norte- PR e em viveiro escavado em Floriano- PR para a característica peso a despesca em tilápias do Nilo linhagem TILAMAX, os resultados demostraram a diferença de aproximadamente 400 g no desempenho de indivíduos da mesma família no mesmo período de cultivo, o valor da correlação genética foi menor que 0,40 mostrando baixa associação genética entre os dois sistemas de cultivo.

Silva, (2023) em sua tese de doutorado avaliou IGA em dois ambientes diferentes (tanque rede e viveiro escavado) em dois locais distintos (Paraná e Santa Catarina) sobre peso corporal de tilápia do Nilo, encontrou valores de herdabilidade 0,32 e 0,18 respectivamente e correlação genética entre os sistemas foi de 0,72 indicando a presença de interação genótipo ambiente afetando o ranqueamento das famílias nos dois ambientes de cultivo. Porém em todas estas pesquisas, ficou constatado que apesar da ocorrência da IGA, quando se faz o ranqueamento das famílias e dos animais, sempre entre as 20 primeiras colocadas em cada um dos ambientes, as melhores em um ambiente sempre são as melhores em outros ambientes variando a colocação entre as 20 melhores. Isto mostra a importância sempre de uso de linhas melhoradas em detrimento das linhas não melhoradas, pois estas sempre são menos produtivas apesar da impressão de boa adaptabilidade em alguns ambientes onde são cultivadas.

Em animais submetidos a processos criteriosos da seleção e melhoramento genético, mesmo com a ocorrência de IGA, apresentam um ganho genético consistente e acumulativo que não se perde através das gerações, ou seja, estes ganhos são permanentes, ao contrário de animais oriundos de linhas não melhoradas.

 À medida que avançam e se consolidam os Programas de Melhoramento Genético de Tilápias no Brasil a tendência é a obtenção de uma linhagem para cada sistema de produção, neste momento é importante frisar sempre aos produtores que em qualquer condição de cultivo é sempre melhor utilizar uma linha melhorada do que linhas não melhoradas, pois as melhoradas sempre serão mais produtivas. Os Programas de Melhoramento consolidados estão atuando fortemente para que, no futuro tenhamos linhas melhoradas para cada uma das condições de cultivo em que os animais estejam inseridos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de animais melhorados para cada sistema e ambiente de cultivo é uma meta a ser seguida, visando a maximização dos resultados da produção de tilápia no país, seja em termos de desempenho produtivo, seja em termos de desempenho reprodutivo de modo a tornar o Brasil entre os Top 3 da produção de tilápias no mundo e consolidar ainda mais a produção desta espécie a exemplo do que é nas demais proteínas de origem animal, como grande produtor e exportador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bowman, J.C. Genotype × environment interactions. Genetics Selection Evolution, v.4, p.117-123, 1972.

Campos, E.C; De Araujo, F.C.T; Alves, L.F.S; Lewandowski, V; Oliveira, C.A.L; Ribeiro; R.P. Interação genótipo ambiente em tilápias do Nilo: será que temos que nos preocupar com isto? Aquaculture Brasil, 2018.

Falconer, D.S. & Mackay, T.F.C. Introduction to quantitative genetics, 4th ed. Edinburgh: Longman Group Limited. 1996.

Figueiredo Junior, C.A. & Valente Junior, A.S. Cultivo de tilápia no Brasil: origens e cenário atual. XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Rio Branco – Acre, 2008.

PeixeBR. 2023. Anuário 2023 PeixeBr da piscicultura. São Paulo. Disponível em: https://peixebr.com.br/anuario/.

Ponzoni, R.W.; Nguyen, N.H.; Khaw, H.L. and Ninh, N.H. Accounting for genotype by environment interaction in economic appraisal of genetic improvement programs in common carp Cyprinus carpio. Aquaculture, v.285, p.47-55, 2008.

Oliveira, S.N; Machado, L.M.C; Matsubara, B.J.A; Castro, P.L; Oliveira, C.A.L; Ribeiro; R.P. Interação genótipo x ambiente para peso vivo em Tilápias (Oreochromis niloticus), variedade GIFT. X Simpósio Brasileiro de Melhoramento Animal Uberaba, MG, p.1-3, 2013.

Senar - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, Coleção SENAR 208. Piscicultura: criação de tilápias em tanques-rede. Brasília: SENAR, 2018. 108 p.

Silva, G.F da. Interações genéticas e ambientais sobre o crescimento e os níveis de glicose no cultivo de tilápias-do-Nilo (Oreochromis niloticus) Tese de doutorado, 78 f. 2023.

1Postgraduate Program in Animal Science, Animal Science Department, State University of Maringá, carolinaschlotefeldt@gmail.com.

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