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OPINIÃO - Cerrado baiano: não basta saber que tem potencial para irrigação, é preciso ter certeza, pesquisa, planejamento e autodisciplina
Data de Publicação: 19 de agosto de 2024 14:32:00 Associação, pesquisa, disciplina e planejamento impulsionam o desenvolvimento do oeste baiano, promovendo um uso sustentável da água
Associação, pesquisa, disciplina e planejamento impulsionam o desenvolvimento do oeste baiano, promovendo um uso sustentável da água
Irrigação por pivot central em Luís Eduardo Magalhães (Foto: Antônio Oliveira) |
Por Antônio Oliveira
O Cerrado baiano, na região oeste do Estado, é muito conhecido no Brasil e no mundo como uma das regiões brasileiras que mais produzem grãos e algodão. Surpreende sempre ao experimentar e validar outras culturas como o café, a cana-de-açúcar, a banana, frutas cítricas e até o cacau, que na região é manejado de uma forma inédita no país: a pleno sol, sem a proteção de outras espécies vegetais proporcionando sombra, como é de praxe onde ele é secularmente produzido. Mas pouca gente no país, e até nesta região da Bahia, sabe que este sucesso da agricultura e da pecuária no Cerrado de terras altas e baixas (nos vales) é o resultado do alto grau de associativismo, disciplina e consciência de seus produtores, vindos de todos os cantos do Brasil, principalmente do Sul e Sudeste para produzirem no então hostil Cerrado.
Para se ter uma ideia, existe na região uma associação criada há mais de 30 anos por alguns agricultores irrigantes, não só para ter representatividade e união, mas, principalmente, para a autodisciplina dos irrigantes. Anos mais tarde, a entidade incorporou os agricultores de sequeiro, formando a eficiente e exemplar Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), hoje com mais de 1.300 associados voltados não só para o desenvolvimento harmônico de seus negócios e do contexto geral agrícola, mas também para a defesa e preservação do meio ambiente, investimentos no bem-estar, na educação e na cultura das populações das cidades da região, em programas fitossanitários e na infraestrutura de estradas de rodagem, entre outros programas.
No mapa, a mancha violeta é área ocupada pelço Urucuia nos seis estados brasileiros. A maior parte, no oeste da Bahia (Divulgação)
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O oeste da Bahia é uma grande mesopotâmia superficial e subterrânea, rica em rios caudalosos, cristalinos, perenes, e conta com a maior parte do Aquífero Urucuia. É muita água para irrigação. Contudo, os irrigantes da região não agem euforicamente, apenas na certeza de que a região tem muita água disponível para a agricultura irrigada. Investem neste sistema com planejamento – claro que nem tudo é perfeito e na região há pontos isolados de falta de consciência e presença do imediatismo. Pessoas que estão muito aquém de representar os agricultores irrigantes e de sequeiro do Cerrado baiano acabam se conscientizando e se envolvendo com aqueles responsáveis pelo desenvolvimento socioambiental.
Atualmente, só em área de grãos, algodão e outras culturas, são 2,8 milhões de hectares. Ainda existe um potencial a ser explorado de mais de 4 milhões de hectares, respeitando as reservas legais de cada propriedade, as APPs etc. Deste total em exploração, 300 mil hectares, representando pouco menos que 10% da área em atividade atualmente, são de áreas irrigadas.
Os agricultores da região sabem que têm na natureza um potencial de irrigação três a quatro vezes maior do que o usado hoje. Recursos hídricos fornecidos pelos rios e pelo Aquífero Urucuia. Responsavelmente, seguem a regra que os levou aos 300 mil hectares irrigados: cautela, disciplina e planejamento. Estão investindo em pesquisas para saber qual é, realmente, o potencial disponível para a ampliação da área irrigada na região e como usar esses recursos hídricos.
Daí surgiu, numa parceria com o Governo da Bahia, por meio de seus órgãos ambientais, o Projeto de Estudo do Potencial Hídrico, realizado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e outras universidades do país. Este projeto já está em sua terceira fase, conforme explicaram, neste domingo, a um programa rural televisivo de Salvador, a analista ambiental da Aiba, Glaucia Araújo; o professor da UFV, Azis Galvão, e o gerente de Sustentabilidade da Aiba, Eneas Porto.
Conforme Glaucia, no programa rural, essa terceira etapa é o desenvolvimento de um programa de monitoramento hídrico, onde a Aiba, por meio dos produtores rurais, em parcerias público-privadas com o estado da Bahia e seus órgãos ambientais, como a Secretaria de Meio Ambiente e o Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), vai implementar e adensar as estações de monitoramento hídrico com o objetivo de fazer o uso da água de acordo com a sua disponibilidade.
Trecho do rio de Ondas, pouco antes dele desaguar no rio Grande, manancial que é poluído ao cruzar cidades a partir de Barreiras (Foto: Antônio Oliveira) |
O projeto é ousado e, inclusive, representantes da Aiba fizeram, recentemente, mais uma viagem técnica ao estado norte-americano de Nebraska para conhecer a técnica de irrigação usada pelos irrigantes de lá. Conforme lembrou o professor Azis, esta foi a terceira viagem que técnicos da Bahia visitaram Nebraska. Segundo ele, Nebraska é o estado norte-americano com a maior área irrigada de toda a América do Norte, “sendo um exemplo de governança hídrica para os Estados Unidos e o mundo, ou seja, de como usar a água de maneira sustentável. “É um projeto que tem dado resultados muito importantes, mostrando para os produtores, para o governo, para os órgãos públicos e privados e, ainda, para a própria sociedade, onde é possível ampliar a irrigação de forma sustentável”, disse o professor Azis sobre o projeto da Aiba.
Por sua vez, na reportagem do canal soteropolitano, Eneas Porto enfatizou que esses estudos apontam claramente que o potencial de irrigação no oeste da Bahia – tanto pela agricultura empresarial quanto pela familiar – pode chegar a 800 mil, 900 mil, 1 milhão de hectares.
Um bom exemplo do que viu em Nebraska foi dado por Eneas Porto. Conforme ele, aquele estado norte-americano tem o tamanho do oeste da Bahia e irriga 3,5 milhões de hectares.
Ainda na opinião de Eneas, é possível ver que isto também é viável no oeste da Bahia, a partir de uma gestão de eficiência hídrica e de monitoramento. É o que a Aiba quer realizar no Cerrado baiano, com a instalação de sistemas de monitoramento e melhoramento da atual gestão dos recursos hídricos da região.
Balneário Rio Corrente, em Correntina, no oeste da Bahia: águas que já passaram por fazendas de irrigação são usadas pela população da cidade (Foto: Antônio Oliveira)
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Voltando a Glaucia Araújo, ela lembrou que o Projeto de Estudo do Potencial Hídrico permitiu conhecer não só o potencial do Aquífero Urucuia (um grande rio subterrâneo), mas também o potencial das águas superficiais (rios), bem como a interação das duas fontes hídricas.
O aquífero, ela continuou, mantém a perenidade dos rios ao longo do ano e o monitoramento proposto pela Aiba vai permitir o uso sustentável da água, ou seja, proporcionar que os irrigantes utilizem a água de acordo com a sua disponibilidade e, ainda, garantir que todos os demais segmentos da sociedade, no consumo humano e animal, tenham a segurança da disponibilidade da água.
Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), deu sua experiente opinião à reportagem supracitada. Conforme ele, “o mais importante é saber quanto e como pode ser usado de forma responsável. Esse estudo permite que possamos usar a área para irrigação, que possamos fazer na mesma área duas safras. Seja soja ou seja algodão, vai trazer resultados para a região; é menos área que participa do processo produtivo e também garante produtividade."
Sobre o Aquífero Urucuia
Ele é o maior aquífero do Brasil e sua área está toda em território nacional. São 142 mil km² (catorze milhões de hectares), dos quais 70 mil km² estão no oeste da Bahia. Ele abrange seis estados: Bahia, à esquerda do Rio São Francisco, que tem a maior parte da reserva subterrânea; extremo norte de Minas Gerais; extremo sul do Piauí e do Maranhão; e extremo leste de Goiás e Tocantins.
O Aquífero Urucuia tem fundamental função na vazão das bacias hidrográficas dos rios São Francisco e Tocantins. No oeste da Bahia, ele é o principal manancial subterrâneo, não apenas pelo seu uso na demanda crescente por água na agropecuária da região, mas também por sua função de reguladora dos afluentes da margem esquerda do leito médio do rio São Francisco, além de alimentar as nascentes de tributários da margem direita do rio Tocantins, nas encostas da Serra Geral.
O oeste da Bahia é privilegiado por suas terras de moldável e de fácil mecanização para vários tipos de agricultura e por seus recursos hídricos abundantes. Felizmente, temos na região agricultores de sequeiro e irrigantes com alto grau de responsabilidade com o meio ambiente, que sabem como usar os recursos naturais à disposição deles. Que este modelo de produção rural se estenda por todo o Brasil.
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