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ENTREVISTA – “Aprosoja Piauí impulsiona a agropecuária sustentável no Cerrado piauiense”, diz Rafael Maschio

ENTREVISTA – “Aprosoja Piauí impulsiona a agropecuária sustentável no Cerrado piauiense”, diz Rafael Maschio

Data de Publicação: 31 de janeiro de 2025 12:44:00 Rafael Maschio destaca os desafios e oportunidades para o cultivo de soja e milho no Cerrado piauiense, enfatizando a importância de infraestrutura e inovação.

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Por Antônio Oliveira

Em entrevista ao Cerrado Rural, Rafael Maschio, diretor-executivo da Aprosoja PI, discute a plataforma de atuação da associação em prol da agropecuária na região. Ele aborda as condições edafoclimáticas, a diversificação agrícola e os desafios da infraestrutura, além de compartilhar perspectivas otimistas para o futuro do agronegócio no estado.

“O Piauí possui condições edafoclimáticas muito interessantes, com potencial para produção sustentável em escala, porém depende de investimentos significativos para transformação desse potencial em resultados positivos”, disse ele.

Segue a íntegra da entrevista.

Rafael Maschio em foto de Elias Fontenele e arte da Cerrado Editora e Comunicação

Cerrado Rural Agronegócios (Cerrado Rural) – Rafael, qual é a plataforma de atuação da Aprosoja em prol do cultivo de soja e milho, especialmente no Cerrado piauiense?

Rafael Maschio – A plataforma de atuação da associação, de maneira resumida, é contribuir em todos os aspectos relacionados a melhoria/manutenção da viabilidade socioeconômica e ambiental do produtor de soja e milho do estado do Piauí.

Cerrado Rural – As condições edafoclimáticas e as políticas públicas estaduais no Cerrado do Piauí têm correspondido às expectativas dos produtores rurais, na sua maioria oriundos de outros estados, para desbravar a região?

Rafael Maschio – O Piauí possui condições edafoclimáticas muito interessantes, com potencial para produção sustentável em escala, porém depende de investimentos significativos para transformação desse potencial em resultados positivos. O produtor tem feito sua parte, que não é fácil, pois na maioria dos casos o investimento necessário é - ou era, no passado recente - maior que o próprio custo de aquisição das terras; além do risco climático, inerente a atividade de sequeiro, e os demais fatores externos que não podem ser inteiramente controlados. Os investimentos públicos ainda precisam fazer frente a grandeza que se tornou a produção agropecuária no estado, especialmente na questão de infraestrutura logística (rodovias) que são fundamentais para garantir a competitividade e, consequentemente, a viabilidade econômica da produção piauiense.

Cerrado Rural – Com o ritmo atual da agropecuária no Cerrado do Piauí, qual é a sua opinião sobre o futuro da região?

Rafael Maschio – A depender das condições de viabilidade e rentabilidade do produtor (da atividade), o Piauí possui um enorme potencial de expansão da sua agropecuária. Somente no Cerrado (sudoeste piauiense) há potencial para superar os 2 milhões de hectares cultivados, agregando cada vez mais práticas de integração lavoura-pecuária, irrigação e da agroindustrialização. Ainda temos muitas áreas com potencial nas regiões central e norte do estado. O estado, se tudo correr bem na safra 24/25, deve se aproximar das 7 milhões de toneladas de grãos e, muito em breve – em cerca de mais 5 anos -  deve superar a marca das 10 milhões de toneladas.

Cerrado Rural – Nas primeiras safras agrícolas da região, a soja predominava. Com o tempo, outras culturas foram introduzidas. Como está a diversificação agrícola atualmente?

Rafael Maschio – O produtor de soja, via de regra, também é produtor de milho e outras culturas, seja por necessidade agronômica de rotação de culturas ou mesmo de diversificação. Hoje a maioria das áreas de milho-safra (1ª safra) já são plantadas em consórcio com outras gramíneas/pastagem, tanto para melhoria dos solos como para a possibilidade de integração com a pecuária. Outras culturas que também tem sido cultivadas são o sorgo, feijão-caupi, arroz (que antigamente era muito utilizado nas aberturas de áreas e tem retomado), o milho-safrinha (2ª safra); além de outros cultivos potenciais como girassol, gergelim, etc. Evidentemente que tudo isso depende das condições de mercado (demanda) e, como já disse, de viabilidade.

 

Cerrado Rural – A região em questão possui a estrutura necessária para se projetar em um cenário de agroindustrialização de seus produtos na própria região, agregando valor?

Rafael Maschio – Ainda precisamos avançar na questão da infraestrutura logística, especialmente a necessidade básica de boas rodovias. A energia elétrica também é um grande gargalo para a agroindustrialização e precisa ter sua oferta aumentada. O Estado tem avançado e isso é, também, um processo natural. Não há como se ter agroindústria sem antes existir as matérias-primas. Mas, paralelo a isso, é preciso avançar sobre estes gargalos estruturais e, também, buscar condições atrativas para a agroindústria, especialmente na questão tributária.

Cerrado Rural – O que falta para a região avançar para esta etapa, que é a agroindústria?

Rafael Maschio – Como citei anteriormente, hoje, ainda precisamos avançar na melhoria das rodovias, oferta de energia elétrica (principalmente) e condições tributárias competitivas, basicamente. Outro desafio importante é a formação de mão-de-obra qualificada.

Cerrado Rural – Qual é a sua percepção sobre a atual composição da Aprosoja Brasil, considerando que o presidente é um produtor rural da região do MATOPIBA, que inclui o sul do Piauí?

Rafael Maschio – A Aprosoja Brasil sempre teve excelentes quadros, verdadeiros produtores que defendem o interesse da classe, que trabalham sem remuneração para melhorar as condições do setor. Não é diferente na atual composição. O presidente Maurício Buffon tem larga experiência na Aprosoja-TO e nas diretorias anteriores da Aprosoja Brasil. Temos total confiança no seu trabalho e orgulho por termos um representante dos Estados do MATOPIBA como presidente da associação nacional.

Cerrado Rural – O agronegócio brasileiro, frequentemente criticado e até demonizado pela sociedade urbana, está atualmente tentando reverter essa situação e democratizar sua dinâmica. Como está esse processo no Piauí?

Rafael Maschio – Acredito que falta informação de qualidade a população urbana e esse é mais um desafio que temos a enfrentar, juntamente com as demais entidades e órgãos que representam o setor agropecuário como um todo. A agropecuária - e o agronegócio num aspecto mais amplo - vem demostrando a cada dia sua importância socioeconômica, hoje representa cerca de ¼ do PIB e emprega mais de 28 milhões de pessoas. Na questão ambiental não é diferente, pois o produtor/proprietário rural é quem realmente conserva e preserva: de 20 a 80% da propriedade tem que ser mantida com vegetação nativa a título de Reserva Legal (RL), além das Áreas de Preservação Permanente (APP’s) e do próprio excedente de vegetação nativa que ainda é imenso no Brasil. Presta um verdadeiro serviço ambiental a população de todo o mundo. Já nas cidades, o que vemos é quase totalidade da sua superfície impermeabilizada com concreto ou asfalto, demandando água potável e energia elétrica, gerando centenas de milhares de toneladas de resíduos sólidos e esgoto, ar poluído, etc. Tem também uma questão político-ideológica muito forte neste aspecto, que tenta passar uma imagem do “agro predador, malvadão” - e sabemos que os motivos são outros e não a questão ambiental, social e econômica; mas a população que pensa e busca conhecer minimamente o campo, sabe o que realmente acontece. O que temos tentado é justamente mostrar essa realidade!

Cerrado Rural – Quais iniciativas a Aprosoja Piauí está implementando para promover a agricultura sustentável na região, considerando a preservação ambiental e a biodiversidade local?

Rafael Maschio – O Piauí é um Estado que tem um diferencial em termos de preservação ambiental, além dos 20% (cerrado) que o código florestal já determina a título de RL, aqui ainda temos uma legislação estadual que prevê mais 10%. Ou seja, totalizando 30%. Ainda, agricultura moderna e sustentável, busca cada vez mais melhorar as condições físicas, químicas e biológicas dos solos e do ambiente como um todo. Tudo que o produtor faz é nesse sentido, porque ele sabe que isso se reflete em produtividade e que sua atividade é diretamente dependente do ambiente. O que a Aprosoja-PI tem buscado é no sentido de promover estas práticas, fazer parceria com instituições de ensino e pesquisa, como temos feito com a Embrapa e Universidades, para sempre buscar evoluir neste aspecto. E isso, de certa forma, já é o que o produtor faz no seu dia-a-dia; trata-se apenas de uma soma de esforços e de conhecimento pois, como eu falei, tudo se traduz em produtividade e manutenção da viabilidade da atividade.

Cerrado Rural – Como a Aprosoja Piauí está se posicionando em relação às políticas agrícolas nacionais, especialmente em temas como subsídios, crédito rural e acesso a tecnologias?

Rafael Maschio – A Aprosoja-PI soma esforços com as demais 15 associações estaduais que representam o segmento da soja/milho através da Aprosoja Brasil, que faz um trabalho focado e efetivo, sempre buscando melhorias para o produtor nestes temas. Hoje o produtor tem ficado cada vez mais dependente do recurso próprio e do crédito privado para seus custeios e investimentos pois a atividade cresceu muito, e o crédito rural com juros subsidiados não acompanhou isso - apesar de ser muito importante especialmente para regiões de expansão/fronteiras agrícolas como o nosso caso. Sempre temos defendido isso, ampliação das políticas de crédito, e também de seguro rural, pois sabemos da importância que tem, como é o caso do FNE para a região Nordeste.

Cerrado Rural – Quais estratégias a Aprosoja Piauí tem adotado para expandir a presença dos produtos agrícolas do estado nos mercados internacionais, especialmente em um cenário de crescente competição global?

Rafael Maschio – Os produtos agrícolas já são os principais itens da pauta de exportação do Estado, com a soja ocupando o primeiro lugar e cerca de 80% das exportações, seguida pelo milho. O produtor tem buscado produzir com o máximo de eficiência e qualidade, ofertando produtos competitivos no mercado mundial. É também um dos nossos objetivos demonstrar isso. Outro aspecto importante é sempre estarmos buscando orientar e ajudar o produtor quanto à conformidade com a legislação nacional, seja nos aspectos econômicos, sociais e ambientais.

Cerrado Rural – De que forma a Aprosoja Piauí está incentivando a adoção de novas tecnologias e práticas agrícolas entre os produtores locais para aumentar a produtividade e a competitividade?

Rafael Maschio – A Aprosoja-PI tem como objetivo, também, acompanhar todo o desenvolvimento destas novas tecnologias e a evolução das práticas de manejo dos sistemas de produção, tanto do que é desenvolvido pelos próprios produtores, como também pelas instituições de ensino e pesquisa (públicas e privadas) e, principalmente, buscar promover parcerias entre estes elos da cadeia. Sempre buscando esse objetivo maior de garantir a viabilidade socioeconômica e ambiental do produtor.

Cerrado Rural – Como a Aprosoja Piauí está se preparando para os desafios impostos pelas mudanças climáticas, e quais ações estão sendo tomadas para mitigar seus impactos na agricultura da região?

Rafael Maschio – O produtor tem investindo cada vez mais na melhoria do ambiente de produção, buscando maximizar a qualidade física, química e biológica dos solos, juntamente com matérias genéticos cada vez mais adaptadas e de maior teto produtivo, evolução do manejo de produção e das operações; estes produtores têm se tornado cada vez mais eficientes, especialmente em condições adversas de cultivo como o déficit hídrico - que em algum momento do ciclo ou em determinado ano é natural de ocorrer nas condições edafoclimáticas e de agricultura de sequeiro, na sua grande maioria, em que convivemos. No contexto de mudanças climáticas, isto tem sido intensificado. É rotina do produtor a adoção de plantas de cobertura/adubação verde, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, manejo integrado de pragas, com uso crescente dos bioinsumos, enfim, todas as práticas que promovam melhorias nos aspectos ambientas e econômicos da atividade. A Aprosoja-PI, dentro do que pode, busca apoiar e promover estas práticas.

Cerrado Rural – Por fim, a cotonicultura já é uma realidade consolidada na região?

Rafael Maschio – Tem se expandido e já é uma realidade. Recentemente a área voltou a superar os 20 mil ha e temos visto investimentos em lavouras e algodoeiras por produtores. Mais uma importante cultura para a diversificação e desenvolvimento da agroindústria.

Cerrado Rural – Muito obrigado por nos conceder esta entrevista.

Rafael Maschio - E que agradeço.

 

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