Português (Brasil)

OVINOCAPRINOCULTURA - Presença de determinadas proteínas pode indicar resistência de ovinos a verminoses

OVINOCAPRINOCULTURA - Presença de determinadas proteínas pode indicar resistência de ovinos a verminoses

Data de Publicação: 22 de agosto de 2024 15:50:00 Descoberta publicada em revista internacional pode ajudar a reduzir aplicações de medicamentos de controle, os anti-helmínticos. Avanço também vai contribuir no melhoramento genético das raças.

Compartilhe este conteúdo:
 Descoberta publicada em revista internacional pode ajudar a reduzir aplicações de medicamentos de controle, os anti-helmínticos. Avanço também vai contribuir no melhoramento genético das raças.
 
 

Os resultados do estudo colaboram para a seleçãode animais
e raças ovinas mais resistentes (Foto: Gisele Rosso)

Da Agência Embrapa de Notícias*

Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) identificou proteínas relacionadas à infecção por vermes em ovinos. Foram analisadas raças suscetíveis (Dorper) e resistentes (Santa Inês) a esses parasitas. A pesquisa, publicada na Revista Internacional Veterinary Parasitology, fornece informac¸o~es sobre os mecanismos de defesa dos animais com diferentes habilidades para resistir a` infecc¸a~o. A descoberta favorece a diminuic¸a~o do uso de anti-helmi´nticos, medicamentos usados para controlar esses vermes.

Os resultados do estudo colaboram para a selec¸a~o de animais e rac¸as ovinas mais resistentes. A seleção é uma ferramenta para controle de parasitas de importa^ncia veterina´ria na produc¸a~o de pequenos ruminantes em a´reas tropicais. A caracterizac¸a~o das proteínas do sangue é capaz de revelar biomarcadores dos animais mais doentes, bem como monitorar condic¸o~es fisiolo´gicas e metabo´licas cri´ticas para o bem-estar e a sau´de dos ovinos.

Verme-haemonchus-contortus (Foto: Juliana Sussai)

Para a identificação e quantificação das proteínas, a pesquisadora Ana Carolina Chagas, que coordenou o trabalho, aplicou a técnica proteômica à produc¸a~o animal tropical, contando com o apoio de parceiros do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa, e da Universidade do Porto. Essa técnica consiste em estudar a distribuição, modificações, interações e funções de uma ou mais proteínas em uma célula ou organismo. A determinação de rac¸as e indivi´duos resistentes à verminose e´ importante para se reduzir o impacto negativo dos parasitas, como o Haemonchus contortus (foto à esquerda).

Cordeiro Dorper (Foto: Juliana Sussai)

Proteínas detectadas

Os cordeiros infectados foram avaliados semanalmente na Embrapa, durante 28 dias. No fim do experimento, houve diferenc¸a significativa entre as duas rac¸as em relação às infecções por meio das análises de contagem de ovos por grama de fezes (OPG) dos animais, que mede o grau da infecção, e avaliação do volume globular (VG), que mede o grau de anemia desencadeada pelos vermes.

A maior ou menor quantidade de determinadas proteínas indicou impactos relevantes no organismo do animal para a proteção em relação à infecção ou aos danos causados pelas inflamações. Algumas proteínas foram encontradas nas duas raças, com diferenças quantitativas significativas. Esses resultados demonstram como a infecção pode impactar o desenvolvimento e o ganho de peso dos cordeiros.

Segundo Chagas, foram detectadas protei´nas associadas ao sistema imune ao se comparar as raças Santa Inês e Dorper  (foto de cordeiro da raça à direita). Outras protei´nas foram ligadas a` resposta ao estresse do manejo, amostragem e calor, e ao controle ou não da inflamac¸a~o. “Por exemplo, a enzima enolase fosfopiruvato hidratase, ou ENO3, desempenha um papel relevante no sistema imunolo´gico da Santa Ine^s, enquanto a Themis parece contribuir na resposta imune da Dorper. Por sua vez, as protei´nas de fase aguda detectadas, as APPs, indicam infecc¸o~es, inflamac¸o~es e condic¸o~es de estresse”, explica a pesquisadora. Ela reforça que essas proteínas possuem potencial como biomarcadores para tratamentos seletivos.

Resultados

Animais resistentes aos parasitas gastrintestinais sa~o capazes de desenvolver uma resposta imune mais ra´pida e robusta, limitando o estabelecimento das larvas, suprimindo o crescimento dos parasitas adultos, diminuindo a fecundidade das fêmeas, ou promovendo a expulsa~o dos Haemonchus contortus adultos. A pesquisa utilizando a proteômica forneceu informações inéditas e uma compreensão mais abrangente sobre a infecc¸a~o por essa espécie de parasita. Foi possível realizar a diferenciac¸a~o entre as duas rac¸as estudadas, e entre animais infectados e na~o infectados da mesma rac¸a.

O estudo revelou, por exemplo, que as proteínas APPs usuais, como alfa-1-glicoprotei´na a´cida, haptoglobina, protei´na amiloide A se´rica e ceruloplasmina indicam condic¸o~es relacionadas à infecc¸a~o, inflamac¸a~o e estresse. Outro avanço foi que o trabalho revelou uma rota imunológica diferente da encontrada na raça Santa Inês.

Cordeiro Santa Inês (Foto: Juliana Sussai)

Protei´nas relacionadas ao desenvolvimento, crescimento e acúmulo de gordura em cordeiros, como a Aggrecan Core Protein (ACAN), apareceram reduzidas em cordeiros infectados de ambas as raças, sugerindo que essas atividades são prejudicadas pela presença do H. contortus, impactando negativamente a produção.

Já a gasdermina-D (GSDMD), historicamente relacionada a` inflamac¸a~o do trato gastrintestinal humano, e a protei´na ligadora de guanilato (GBP) apresentaram-se em abunda^ncia nos cordeiros Dorper infectados. Ambas as protei´nas aumentadas, com a ACAN reduzida, podem ser biomarcadores de animais infectados.

Portanto, os resultados indicam que as duas rac¸as estudadas te^m metabolismo e resposta imunológica distintas frente à infecc¸a~o. Diferenc¸as quantitativas em protei´nas compartilhadas podem contribuir para o desenvolvimento de biomarcadores e auxiliar na determinação do status de infecção de ovelhas, que poderão ser tratadas seletivamente no rebanho.

Foto: Embrapa

“É uma alternativa para reduzir o uso de vermífugos e diminuir os casos de resistência de parasitas. No entanto, o controle da verminose depende de vários fatores, principalmente de ações nas propriedades e conscientização dos produtores de ovinos de evitarem o uso indiscriminado de anti-helmínticos”, ressalta a pesquisadora.

Prejuízos de US$ 100 milhões 

Estima-se que, no Brasil, as doenças gastrintestinais levam a perdas de até 27% no ganho de peso de cordeiros criados a pasto, atingindo US$ 94,5 milho~es por ano. Já as relacionadas a` morte de animais ficam em torno de US$ 13 milho~es anuais. O rebanho brasileiro chega a quase 20 milho~es de ovinos, número ainda insuficiente para atender à demanda interna.

Os parasitas gastrintestinais são responsáveis por restringir a produc¸a~o ovina, porque limitam o desempenho animal. O principal verme que ameaça ovinos é da espécie Haemonchus contortus, mais frequente nos pequenos ruminantes em regio~es tropicais e subtropicais, causando anemia grave, edema submandibular e morte por hematofagia.

Para tentar controlar o problema, os produtores de ovinos acabam fazendo uso indiscriminado de anti-helmi´nticos, o que resulta na resiste^ncia dos parasitas, diminuindo a efica´cia de seu controle. “Ferramentas tecnolo´gicas capazes de identificar os mais parasitados do rebanho são importantes para promover um controle mais preciso, preservando os compostos anti-helmi´nticos que ainda sa~o eficazes”, explica Chagas.

*Texto produzido por Gisele Rosso, da Embrapa Pecuária Sudeste.

 

 

#Embrapa #Pecuária #Ovinos #Verminose #Proteômica #PesquisaAgro #ProduçãoAnimal #SaúdeAnimal #Sustentabilidade #InovaçãoAgrícola

 

 

Compartilhe este conteúdo:

  Seja o primeiro a comentar!

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo

Nome
E-mail
Localização
Comentário