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FREVO, BAIÃO E VINHO- Agreste pernambucano se estabelece como polo produtor de vinhos

FREVO, BAIÃO E VINHO- Agreste pernambucano se estabelece como polo produtor de vinhos

Data de Publicação: 17 de setembro de 2024 17:13:00 Seis variedades de uvas foram recomendadas especificamente para a região do Agreste pernambucano. A recomendação resulta de pesquisa conduzida pela Embrapa, Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) e Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).

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 Seis variedades de uvas foram recomendadas especificamente para a região do Agreste pernambucano. A recomendação resulta de pesquisa conduzida pela Embrapa, Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) e Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).  

 

Análises comprovam a viabilidade da produção local e atestam
a qualidade dos vinhos produzidos na região ( Foto: Edmea Ubirajara)

Da Agência Embrapa de Notícias

Uma nova fronteira para vinhos finos está surgindo no Agreste pernambucano, impulsionada por uma pesquisa pioneira realizada pela Embrapa Semiárido (PE), em parceria com a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Seis variedades de uvas foram recomendadas especificamente para essa região, com dados que comprovam a viabilidade da produção local e análises que atestam a qualidade dos vinhos produzidos.

O estudo envolveu o cultivo e avaliação de dez variedades de uvas europeias em cinco ciclos de produção no campo experimental do IPA, no município de Brejão (PE). O objetivo foi compreender o comportamento agronômico, a adaptação das variedades, a qualidade das uvas, o potencial enológico e a viabilidade do processamento de vinhos em regiões não tradicionais.

Para a produção de vinhos brancos, as cultivares recomendadas foram Sauvignon Blanc, Muscat Blanc à Petits Grains (conhecido como Moscato Branco) e Viognier. Para os vinhos tintos, as variedades mais indicadas foram Syrah, Cabernet Sauvignon e Malbec. Segundo a pesquisadora da Embrapa Patrícia Coelho de Souza Leão, coordenadora do projeto, essas cultivares se destacaram pelo bom desempenho agronômico, produtividade e potencial enológico. “A Sauvignon Blanc (foto abaixo), Syrah e Malbec foram as mais notáveis, com produtividade média de 10 toneladas por hectare, similar à registrada na região do Vale do São Francisco, polo produtor já consolidado, sendo recomendadas para cultivo no Agreste”, afirma.

Uvas Sauvingnon Blanc (Foto: Mairon Moura da Silva)

Além dessas, a Chardonnay foi avaliada para vinhos brancos, e a Pinot Noir e Petit Verdot para vinhos tintos. “No entanto, essas variedades não mostraram boa adaptação, apresentando fraco desenvolvimento vegetativo, baixo vigor e produtividade reduzida”, aponta a pesquisadora.

Qualidade dos vinhos foi avaliada

O projeto também incluiu a avaliação da qualidade dos vinhos produzidos a partir das uvas cultivadas. A vinificação foi realizada no Laboratório de Enologia da Embrapa Semiárido, utilizando métodos tradicionais em escala experimental. Os vinhos resultantes atenderam às exigências da legislação brasileira para vinhos finos secos e se destacaram em análises sensoriais conduzidas pela equipe da Escola do Vinho, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE). Essas análises confirmaram o potencial dos vinhos da região Agreste de Pernambuco.

Análises atestam a qualidade do vinho ( Foto: Edmea Ubirajara )

O trabalho de pesquisa tem impulsionado o cultivo de uvas viníferas e a produção de vinhos de alta qualidade no Agreste, atraindo empreendedores interessados no potencial do enoturismo como uma nova oportunidade de negócio. “Os resultados são um estímulo para a produção de uvas viníferas na região. Além de atrair o turismo, a vitivinicultura diversifica as atividades agropecuárias, especialmente para pequenos e médios empreendedores rurais, e oferece ao consumidor vinhos de qualidade diferenciada em relação aos produzidos no Semiárido”, destaca Souza Leão.

Desempenho das uvas no Agreste pernambucano

Muscat Blanc à Petits Grains – Apresentou ciclo produtivo de 129 dias e produtividade média de 6 toneladas por hectare, chegando a 8 toneladas em condições ideais. Cada planta produziu em média 12 cachos, com massa em torno de 148 gramas, e rendimento de polpa de 74,39%. O vinho branco seco dessa variedade destacou-se pela coloração esverdeada com reflexos dourados, aromas complexos de frutas tropicais, notas cítricas e florais, e um corpo leve com bom equilíbrio entre álcool e acidez.

Sauvignon Blanc – O ciclo fenológico da Sauvignon Blanc durou em média 135 dias. A produtividade média foi de 11 toneladas por hectare, com um máximo de 16 toneladas. Cada planta produziu cerca de 23 cachos, com massa média de 109 gramas e rendimento de polpa de 70,37%. O vinho dessa variedade se apresentou límpido e brilhante, com aromas de frutas brancas, tropicais e notas cítricas. Na boca, mostra equilíbrio, corpo médio e boa persistência.

Viognier – O ciclo de produção variou de 132 a 138 dias. A produtividade média foi de 5 toneladas por hectare, podendo atingir 6 toneladas. Cada planta produziu em média 12 cachos, com massa de 94 gramas. O rendimento da polpa foi de 66,56%. O vinho seco de Viognier apresentou coloração amarelo pálido, aroma complexo com notas de mel, baunilha, frutas cítricas e tropicais, e um sabor equilibrado com boa persistência.

Syrah – Para a variedade, o ciclo fenológico foi de 144 dias, com uma brotação de 60,37% e produtividade de 10 toneladas por hectare, podendo chegar a 14 toneladas. Os cachos apresentaram massa média de 110 gramas. O rendimento de polpa foi de 61,73%. O vinho tinto seco jovem apresentou coloração rubi, notas aromáticas de frutas vermelhas e especiarias, corpo médio e persistência gustativa.

Cabernet Sauvignon – Apresentou ciclo de 149 dias, chegando a 160 dias. A produtividade foi de 4 toneladas por hectare, com um máximo de 5 toneladas. Cada planta produziu cerca de dez cachos com massa de 105 gramas. O rendimento médio de polpa foi de 59,83%. O vinho tinto seco jovem dessa cultivar apresentou coloração rubi com reflexos acastanhados, aromas de pimentão verde, especiarias, frutas vermelhas em compota, frutas negras e menta. Na boca, é equilibrado, com corpo médio e sabor frutado, com persistência gustativa média.

 

Malbec – O ciclo fenológico foi de 146 dias, com brotação média de 54,65%, alcançando produtividade de 10 toneladas por hectare, podendo chegar a 18 toneladas. Os cachos apresentaram massa média de 140 gramas. O vinho tinto seco jovem da variedade Malbec apresentou coloração rubi com reflexos violáceos, bom brilho e limpidez, aromas de frutas vermelhas e negras, notas florais e um sabor frutado com corpo leve.

União entre pesquisa e empreendedorismo

Os trabalhos conduzidos pela Embrapa Semiárido forneceram a base para a ascensão de uma nova região vinícola no Agreste de Pernambuco, especialmente em Garanhuns, ao validar o cultivo de uvas em área de produtor local. A iniciativa uniu pesquisa científica e empreendedorismo, revelando o potencial da vitivinicultura de altitude na região.

Vitivinicultura está incentivando o turismo regional ( Foto: Divulgação Vale das Colinas )

O empresário e médico Michel Moreira Leite foi o primeiro a apostar nesse potencial. Proprietário da vinícola Vale das Colinas, ele produz anualmente cerca de 6 mil garrafas de vinho, que já conquistaram prêmios nacionais, tornando-se um exemplo de sucesso e inovação no Agreste.

A jornada de Leite começou em 2013, quando ele e sua esposa adquiriram um terreno de 37 hectares na zona rural de Garanhuns e decidiram transformar a área em uma plantação de uvas viníferas. “Não sabíamos por onde começar, então fomos à Embrapa buscar informações sobre a viabilidade técnica do projeto”, relembra.

No Centro de Pesquisa, o casal descobriu que já estavam sendo conduzidos experimentos com o cultivo de uvas viníferas no Agreste. Para eles, a Empresa foi crucial na construção do projeto piloto em Garanhuns. O empresário somou forças à instituição de pesquisa por meio de um convênio de cooperação técnica, disponibilizando seu parreiral para novos estudos.

Dessa colaboração nasceu a Vale das Colinas, em 2018. Inicialmente, foram plantadas as variedades Cabernet Sauvignon, Malbec e Muscat Petit Grain em 3,5 hectares. A primeira colheita, em 2020, deu início às atividades de enoturismo. A área cultivada foi ampliada para 14 hectares, com novas variedades, como Syrah, Chenin Blanc e Marselan.

Com foco na produção artesanal e na sustentabilidade, a Vale das Colinas se posiciona como uma Vinícola Boutique, privilegiando a colheita manual e promovendo visitas e eventos. “Não queremos mecanizar, pois a geração de empregos é um compromisso nosso”, afirma Leite.

Atualmente, a vinícola oferece cinco rótulos, incluindo três tintos — Cabana do Vale Reserva (Cabernet Sauvignon), Dona Elisa (Malbec) e Cabana do Vale (Cabernet Sauvignon) — e dois brancos — Dona Cecília (Muscat Blanc à Petits Grains) e Ciranda (Sauvignon Blanc). As primeiras safras foram vinificadas com apoio da Embrapa e do Instituto Federal do Sertão, em Petrolina. Desde a terceira safra, o processo de vinificação passou a ser feito na própria propriedade, com a última safra resultando em 19.500 garrafas.

Agora, Leite busca reduzir custos e aumentar a competitividade do negócio. Ele acredita que a maior contribuição do projeto foi o impacto no desenvolvimento humano da região. “Nossa vinícola fortaleceu a hotelaria e a gastronomia de Garanhuns, impulsionando o turismo local”, ressalta.

O crescimento da vitivinicultura no Agreste atraiu novos empreendedores, como a Vinícola Mello, que iniciou suas operações em 2021, com variedades como Malbec, Merlot, Cabernet Franc, Chenin Blanc, Chardonnay e Pinot Noir. Estudos de 12 novas variedades ampliam ainda mais o potencial vinícola da região.

Patrícia Souza Leão destaca que o sucesso do enoturismo no Agreste e no Semiárido pernambucanos tem atraído a atenção de empreendedores de outros municípios do Nordeste. Já estão em andamento projetos para a implantação de vinhedos em Camocim de São Félix, Bonito, Gravatá e Flores, em Pernambuco; e em Bananeiras, Natuba e Sousa, na Paraíba; além de São José de Mipibu, no Rio Grande do Norte.

“São as pesquisas da Embrapa e de parceiros que estão fortalecendo a vitivinicultura brasileira, gerando novas oportunidades de negócios e promovendo o desenvolvimento econômico no interior do Nordeste do País”, conclui Souza Leão.

Condições Climáticas

A vitivinicultura tropical no Brasil ocorre principalmente em duas condições climáticas: regiões de clima tropical e subtropical de altitude, e regiões semiáridas, caso do Submédio do Vale do São Francisco. Nessa última, as temperaturas elevadas permitem até duas colheitas anuais, o que representa uma vantagem competitiva significativa.

Já a Microrregião de Garanhuns se destaca por estar situada em clima de altitude, a quase 900 metros acima do nível do mar, com temperatura média anual de 20,6 ºC. As características climáticas configuram uma transição entre as registradas nas regiões vinícolas do Semiárido e as do Sul e Sudeste, com possibilidade de apenas uma safra ao ano.

Com apoio da pesquisa, produtor criou a Vale das Colinas
( Foto: Divulgação Vale das Colinas )

Próximos passos

O cultivo de videiras voltado à produção de vinhos finos no Agreste pernambucano está em fase de aprimoramento para estabelecer um sistema de produção mais eficiente e competitivo. Esse é o próximo passo da pesquisa, de acordo com Souza Leão. No entanto, com base nos trabalhos já realizados, foram elaboradas recomendações para otimizar o cultivo na região.

A pesquisadora reforça a importância da continuidade dos estudos realizados pela Embrapa em parceria com outras instituições, como a Ufape e o IPA. Essas pesquisas abordam aspectos cruciais do sistema de produção, incluindo técnicas de manejo, avaliação de novas cultivares e clones, redução do ciclo produtivo, práticas de poda e definição do momento ideal para a colheita. O objetivo é  tanto aumentar a produção quanto garantir uvas de maior qualidade para a elaboração de vinhos.

“A qualidade do vinho está diretamente relacionada ao manejo adequado das plantas. Portanto, o avanço dos estudos é essencial para melhorar a competitividade da cadeia produtiva na região. Isso contribuirá para diversificar a economia local, gerando novos empregos e renda”, conclui.

*Texto produzido por Clarice Monteiro Rocha, da Embrapa Semiárido.

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