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ENTREVISTA – Humberto Miranda, presidente do Sistema FAEB/SENAR: “Surge um novo eldorado no oeste da Bahia”

ENTREVISTA – Humberto Miranda, presidente do Sistema FAEB/SENAR: “Surge um novo eldorado no oeste da Bahia”

Data de Publicação: 21 de abril de 2024 11:30:00 Humberto Miranda esteve no oeste da Bahia, nestes dias, visitando – e se surpreendendo – com novos projetos agrícolas. Mas seu principal objetivo na região foi reinaugurar o Centro de Capacitação Regional do Sistema na região. Nesta oportunidade, o entrevistei e trocamos ideias sobre o potencial do Cerrado baiano, não só para grãos e fibras, mas, também, para a piscicultura, avicultura, suinocultura e fruticultura – destaque para o cacau. Falamos, também, dos gargalos que insistem em travar a

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Humberto Miranda em discurso por ocasião da reinauguração do Centro de Capacitação Regional (Foto: Antônio Oliveira)

 

Por Antônio Oliveira

O Sistema FAEB/SENAR reinaugurou, nesta sexta-feira, 20, em Luís Eduardo Magalhães, o seu Centro de Capacitação Regional no oeste da Bahia (leia matéria sobre ainda neste domingo). Inaugurado e entregue ao homem do campo em 2014, a grande escola de formação de mão de obra para os agronegócios não só da região, mas de todo o MATOPIBA, é um dos cinco que o sistema tem em todo o estado da Bahia. O evento foi prestigiado por mais de 250 pessoas, entre lideranças do agro, da política e empresariais, com destaque para fundadores e ex-diretores do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães e Região, cujo aniversário de existência, 23 anos, neste dia 21 de abril, estava em comemoração, culminando, após a inauguração do Centro, num jantar dançante.

Na oportunidade, eu tive um bate – papo com o presidente do Sistema, Humberto Miranda. Falamos e trocamos ideais sobre o potencial e o desenvolvimento do Cerrado baiano em diferentes culturas, alguns que surpreendem, como o cultivo de cacau sob um sistema único em todo o Brasil, a piscicultura, a avicultura e a suinocultura.

Mas também falamos dos gargalos que ainda emperram o desenvolvimento social e econômico da região oeste da Bahia, como a falta de um aeroporto com estruture que conecte, por linhas comerciais, a região a todo o Brasil.

Um homem de ampla visão de Estado e sensível aos problemas que travam o pleno desenvolvimento agroeconômico e social.

Segue a entrevista:

Centro-Oeste Farm News (CONFARMENEWS)Presidente, na sua visão, qual é a importância da agropecuária, do agronegócio, do Cerrado baiano para o contexto do Estado da Bahia, para o Brasil?

Humberto Miranda - Primeiro, obrigado pela sua presença, da imprensa do Tocantins aqui na nossa Bahia. A gente fica muito feliz, a imprensa tem um papel fundamental de fazer a boa divulgação, levar as notícias para a nossa sociedade. O setor agropecuário é extremamente importante para a Bahia. Só para você ter uma ideia, ele representa hoje 23% do PIB e 30% de todos os empregos gerados na Bahia é do setor agropecuário. Nós temos um peso na exportação. 51% de tudo que a Bahia exporta é do setor agropecuário e a grande parte disso sai daqui do Cerrado, como você perguntou. Do Cerrado nosso, que é um grande produtor de grãos. Temos aqui uma tecnologia de produção extremamente eficiente. Temos sempre, ano a ano, uma das melhores produtividades de grãos do Brasil. Temos, agora, chegando não apenas aqui Cerrado (de terras altas), mas, também, na região do vale (do rio Grande), muita fruticultura. Tivemos, hoje,  no evento de cacau a pleno sol (dia de campo em uma fazenda que cultiva cacau por meio de um sistema único no Brasil, que é o cultivo do cacau não consorciado). Tivemos, hoje, também, visitando fazendas de produção de banana com alta produtividade. Então, o Cerrado brasileiro, que no passado, nos anos 70, era um problema, hoje é a solução da produção de alimentos para o Brasil e para o mundo. O Cerrado brasileiro, não apenas o da Bahia, produz uma grande quantidade de alimentos que alimenta, hoje, mais de 1 bilhão de pessoas mundo a fora. Então, a Bahia dá uma atenção especial. Nós estamos aqui inaugurando esse Centro Regional exatamente para trazer a educação para o campo, para trazer a qualificação e a capacitação da mão de obra para a região, por entender a importância que o Cerrado baiano tem para nossa economia.



CONFARMENEWS - O Cerrado  surpreende, sempre, na diversificação de culturas. Agora, por exemplo, o cacau, que inclusive é cultivado numa metodologia inédita no Brasil. No que esta nova realidade de cultura agrícola no Cerrado baiano pode acrescentar nesta sua visão?

Humberto Miranda -  Eu não tenho dúvida - que o setor agropecuário brasileiro me permita dizer -, o Cerrado baiano, vai ser cada vez  mais importante para a nossa sociedade, para o desenvolvimento do Brasil. O Brasil é um país agrícola. Nós temos as terras, as maiores terras agricultáveis do mundo. Nós temos água suficiente, nós temos gente para trabalhar e nós temos, hoje, tecnologia de produção para todos os biomas - Caatinga, para Mata Atlântica, para o Cerrado. Então, o conhecimento chegou, a difusão de tecnologia, que ainda é um certo gargalo. A infraestrutura ainda tem gargalos a serem superados, como estradas, portos, energia elétrica. Então, ainda tem alguns fatores que ainda travam o desenvolvimento não apenas do Cerrado da Bahia, mas do Cerrado de todo o Brasil, da agropecuária brasileira. Segurança jurídica. Nós temos problemas sérios aqui no estado da Bahia. Mas tudo isso com trabalho, com organização, com planejamento, a gente vai superando. E eu não tenho nenhuma dúvida do que comecei dizendo. A agropecuária brasileira vai ter cada dia uma importância maior para nossa sociedade. Vai ser cada vez mais um gerador de empregos, de fixação das pessoas no campo, sem as pessoas precisarem ter que ir embora para as grandes cidades. E é equipamentos como esse que a gente está inaugurando hoje aqui que vai levar educação, que vai levar a qualificação para que as pessoas possam voltar para o campo. Mas voltar com conhecimento. Antigamente, tinha um ditado que dizia “se não estudar, vai para a roça”. Hoje o ditado é completamente inverso. Estude muito, se prepare, se capacite, se qualifique para que você possa voltar para a roça...



CONFARMENEWS - ...Neste contexto geral de produção e produtividade do Cerrado baiano, o papel principal do Sistema Fieb/Senar é este: levar a educação, levar o conhecimento para o campo?

 

Humberto Miranda - Exatamente. Nós somos o braço educacional do setor agropecuário. A gente diz que o Senar é a maior escola da terra, do campo. E, então, nós temos essa obrigação de levar não apenas os cursos formais, como a gente tem aqui técnicos em agronegócio, fruticultura, zootecnia, floresta, que são cursos formais reconhecidos pelo MEC (Ministério da Educação). Mas temos aqueles cursos de pequena duração, que é exatamente o que eu falei há pouco, o curso que qualifica a mão de obra para formar um bom tratorista,  um gerente de fazenda,  um padeiro, para ser um agente de desenvolvimento no campo. Então, essa junção dos cursos formais, que são o curso escolar reconhecido pelo MEC, com os cursos profissionalizantes, é o que gera empregabilidade, oportunidade para as pessoas poderem, aqui mesmo em Luís Eduardo e nessa região belíssima,  de tantas cidades, e que geram tantos empregos, as pessoas poderem aqui mesmo ganhar bem no campo, morar com qualidade de vida e realizar seus sonhos por aqui mesmo.



COFARMNEWS – Presidente, nesse contexto de produção no Cerrado baiano há duas culturas que estão revolucionando a agricultura, a agropecuária no oeste da Bahia, que são a avicultura - primária e a agroindústria - e a piscicultura. Nós somos hoje - a região de Barreiras -, o segundo maior produtor de peixe de cultivo da Bahia. Estes dois setores não estão um pouco desassistidos do Sistema Fieb/Senar?

Humberto Miranda - Você foi assertivo. A região está passando por uma transformação e essa transformação é baseada na agroindustrialização. Transformar grãos em proteína, seja proteína animal, seja através do peixe, seja através da avicultura, seja através da suinocultura, que também está chegando forte aqui. E, realmente, a gente precisa dar uma atenção maior aos processos de agroindustrialização. Nós temos conversado inclusive com o presidente da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Carlos Henrique, para que possamos fazer um trabalho conjunto , das duas federações, porque a agroindústria faz parte dos dois setores, para que a gente possa estimular o desenvolvimento da agroindústria e dar essa atenção que você falou na capacitação, na qualificação, na preparação de mercado, para que o cara que produz o peixe aqui tenha mercado para colocar seu peixe, para que a nossa avicultura daqui possa acessar mercados internacionais que têm preços mais remunerador. Então, é ainda um desafio a ser organizado, que é esse planejamento dessas atividades novas que têm chegado aqui. Acabamos de falar do cacau. Escreva o que eu estou dizendo aqui, guarde essa nossa entrevista: O Cerrado baiano vai ser o maior produtor de cacau do mundo nos próximos dez anos. Nós vamos produzir cacau aqui para abastecer o mundo. Não é para atender o mercado brasileiro. Não! É para abastecer o mundo. A cacaucultura que está sendo implementada aqui é cultura 4,0. Só para você ter ideia: a agricultura tradicional de cacau produz 20 arrobas por hectare. Aqui, o projeto é para produzir 300 arrobas por hectare, com áreas já em testes, produzindo mais de 200 arrobas por hectare. Então, é uma verdadeira revolução que está acontecendo aqui no Cerrado. Não apenas no que diz respeito à questão, especialmente do cacau, mas de outras atividades, como você acabou de falar.

 

COFARMNEWS – Presidente, há na região grandes carências de infraestrutura. Por exemplo, de aeroporto. Há, inclusive, uma disputa entre Luís Eduardo Magalhães e Barreiras. De que forma o Senar a e a Federação pode interferir em benefício desse setor, desses produtores junto aos governos estadual e federal?

COFARMNEWS - Veja bem, vou começar pelo aeroporto. Você falou, é um desafio. Uma região como essa, com o potencial que tem, com a população que tem, com grandes municípios e com o grande número de pessoas que se desloca de várias partes do Brasil e do mundo para aqui constantemente, como hoje no evento lá do Cacau. Lá tinha quase dez estados presentes.  Não podemos ficar sem um aeroporto - e um grande aeroporto, não é qualquer aeroporto. A região oeste merece um aeroporto de qualidade. Quanto à localização, a gente deixa que tecnicamente seja escolhido o melhor lugar. O que interessa é que sejaem Luís Eduardo ou em Barreiras, essa região receba um aeroporto de qualidade. E o nosso papel, como Federação, como sociedade, é cobrar dos governos e cobrar da própria Aeronáutica que viabilizem a localização desse aeroporto, que as políticas públicas do nosso Estado e até do próprio Brasil nos ajudem a construir a solução desse problema de infraestrutura, que é um dos maiores da região. Nós temos também outros problemas tão graves, como a questão de estradas, a questão da ferrovia (Leste-Oeste) que ainda está  sendo construída, mas muito morosamente. A questão de porto: a gente ainda tira grãos daqui para o porto de Itaqui, no Maranhão, para o porto de Santos.


 

COFARMNEWS -  Por falar nisto, qual seria o futuro do Cerrado baiano com o pleno funcionamento da Leste-Oeste e do futuro porto de Ilhéus? Que importância esta logística terá para o desenvolvimento do agronegócio de uma forma geral - para a Bahia, para a região oeste, para a região do MATOPIBA.

Humberto Miranda -  Tornar o nosso setor, que já é competitivo, que já acessa muitos mercados internacionais, mais competitivo ainda. Diminuir custos, evitar os custos rodoviários, evitar acidentes nas rodovias, diminuir custo de combustível, diminuir a poluição ambiental. Uma série de ganhos. A rede ferroviária brasileira foi sucateada nos últimos 30, 40 anos. Foi um pecado que os governos brasileiros fizeram. Hoje, estão começando a despertar para a importância que têm as ferrovias, como um modal de transporte seguro, barato, eficiente, menos poluidor e que baixa custos. E baixando os custos, toda a população ganha porque o alimento chega mais barato na mesa do consumidor interno, o nosso brasileiro, e, também, consegue chegar aos mercados internacionais com preços mais competitivos, mais baratos. Então, o que a gente torce é que essas ferrovias que estão sendo - algumas já construídas, outras planejadas -, elas saiam do papel com rapidez, porque a sociedade já pagou um preço muito caro por isso (sucateamento das ferrovias), durante esses anos todos, com a deficiência da rede ferroviária baiana e brasileira.


 

COFARMENEWS - Qual a visão que o senhor tem da nova fronteira que está se abrindo na região do Vale, no caso, a região de Barra (região onde o rio Grande se encontra com o rio São Francisco)?

Humberto Miranda -  Um novo eldorado da produção brasileira, juntando a região de Barra, que tem terras planas, dois rios importantes se juntam ali dentro da cidade de Barra, Rio São Francisco, rio Grande...


 

Humberto Miranda e Vanir Kolln, um dos fundadores e construtores da sede do Sindicato reinauguram o Centro de Capacitação (Foto: Antônio Oliveira)

COFARMNEWS - ... O rio São Francisco poderia ser um canal hidroviário auxiliar dos modais ferrovias e rodovias até os portos do litoral do Nordeste?

Humberto Miranda - Não. Eu acho que, talvez, a ferrovia seja ainda o melhor modal, a melhor maneira. Mas eu digo (do futuro da região) pelo potencial hídrico que tem, a quantidade de água que tem naquela região para produção. E aí se junta a ela o Baixio de Irecê, que está do outro lado da ponte, o Baixio de Irecê. São 59.000 hectares de área irrigada, o maior projeto de irrigação da América Latina; 150.000 empregos diretos (podem ser gerados). Então, imagine a revolução do ponto de vista do emprego, do ponto de vista da produção, do ponto de vista da renda, que a Bahia vai sofrer com o desenvolvimento dessa região. Então, eu não tenho nenhuma dúvida do que estou afirmando: a região de Barra, somado ao Baixio de Irecê, será o novo eldorado da produção brasileira. Não tem nenhum outro lugar no Brasil em curto e médio prazo, que tem a capacidade produtiva que tem essa região  que nós estamos falando agora. Claro que ainda precisa, por exemplo, agilizar os processos de implementação da irrigação dos projetos de irrigação dentro do Baixio de Irecê. A parte de infraestrutura ainda falta asfalto lá, alguns lugares. Falta ainda o sistema de irrigação ser montado em muitas áreas. Falta também a questão da infraestrutura. Nós precisamos, quem sabe, de uma estrada saindo de Barra para chegar em Juazeiro, margeando a margem direita do rio, que vai encurtar em mais de 100 km. A gente vai economizar para botar os nossos produtos de uma forma mais eficiente em todos os mercados do Norte e do Nordeste. Então, de novo, infraestrutura que ainda falta muito aqui na nossa região, no nosso estado. Mas a gente tem que ter paciência e tem que ser cobrador. E tem que ser propositivo para que as políticas públicas venham atender essa região que é importante demais para Bahia, para o Brasil.

COFARMNEWS - Presidente, muito obrigado por essa entrevista.

Humberto Miranda - Um abraço. Obrigado também a você pela presença aqui e conte sempre conosco, com a Federação.

 

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