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ARTIGO - Neoindustrialização no Brasil: os objetivos são claros, mas o processo ainda gera dúvidas para mecanização da agricultura familiar

ARTIGO - Neoindustrialização no Brasil: os objetivos são claros, mas o processo ainda gera dúvidas para mecanização da agricultura familiar

Data de Publicação: 25 de abril de 2024 17:05:00 “Até o momento, ainda não estão definidas claramente as regras de como isso funcionará. É preciso haver um equilíbrio claro entre o fornecimento de máquinas e o mercado capaz de comprá-las”

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Por Nelson Watanabe

O lançamento do governo federal do Plano de Ação para a Neoindustrialização (2024-2026) em janeiro deste ano era aguardado com boas expectativas pela cadeia industrial produtiva do País. É sabido que a desindustrialização do Brasil infelizmente é um fenômeno que tem ocorrido desde os anos 80, causado por fatores diversos, entre os quais se destacam a elevada carga tributária, o excesso de burocracia, a falta de infraestrutura eficaz, o alto custo de energia e, mais recentemente, os efeitos da crise sanitária causados pela pandemia de Covid-19. Tudo isso faz com que a indústria fique como que “patinando sobre óleo” e não consiga sair do lugar.


"Necessitamos de mais segurança para podermos investir na capacidade produtiva e em novos produtos para oferecer aos clientes da agricultura familiar meios para que sejam alcançadas as metas de produção definidas pelo Plano de Neoindustrialização"

Partindo desse quadro preocupante, um projeto de neoindustrialização do Brasil teria tudo para ser visto com bons olhos, inclusive pelo agronegócio. Atualmente a mecanização dos estabelecimentos da agricultura familiar chega a 18%. O Plano tem como meta aspiracional para 2033 aumentar a participação do setor agroindustrial no PIB agropecuário para 50% e alcançar 70% de mecanização dos estabelecimentos de agricultura familiar, com o suprimento de pelo menos 95% do mercado por máquinas e equipamentos de produção nacional, garantindo a sustentabilidade ambiental.

Os objetivos do Plano são claros: aumentar a produtividade no campo e o valor agregado da produção agrícola brasileira; alinhar as políticas industrial e de comércio exterior; mecanizar a agricultura familiar; desenvolver máquinas, equipamentos e insumos nacionais para reduzir risco de variações de oferta internacional.

De acordo com a Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), há hoje no Brasil 450 fabricantes dedicadas ao setor de máquinas e equipamentos agrícolas, incluindo companhias internacionais. Alcançar 70% de mecanização do campo em dez anos é uma meta ambiciosa. Porém, o Plano do governo federal esbarra em uma questão de ordem prática: mesmo que a indústria consiga produzir o suficiente para suprir essa demanda, haverá financiamento em igual escala para o consumidor final dessas máquinas?

Até o momento, ainda não estão definidas claramente as regras de como isso funcionará. É preciso haver um equilíbrio claro entre o fornecimento de máquinas e o mercado capaz de comprá-las. Para isso, é preciso que o governo federal ofereça juros mais baixos, incentivos e segurança fiscal aos dois lados dessa corda, que dependem um do outro para a evolução de ambos os setores.

A neoindustrialização do Brasil é necessária em todos os setores, mas além do lançamento de planos que nos trazem otimismo, precisamos de regras claras de como esses projetos serão colocados em prática. O agronegócio brasileiro possui hoje tecnologia mais do que suficiente para atender as demandas de todas as regiões do País e investidores prontos a trabalhar para que essa indústria cresça em ritmo avançado. Porém, antes de colocar as máquinas em funcionamento, é preciso saber como será essa conta poderá ser paga. E isso ainda não está claro no Plano lançado pelo governo. Necessitamos de mais segurança para podermos investir na capacidade produtiva e em novos produtos para oferecer aos clientes da agricultura familiar meios para que sejam alcançadas as metas de produção definidas pelo Plano de Neoindustrialização.

 

* Nelson Watanabe é gerente Nacional de Vendas da Agritech Lavrale, fabricante de tratores, microtratores e implementos Agritech para agricultura familiar.

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