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OPINIÃO - A crise da piscicultura: tempo de união e comunicação

OPINIÃO - A crise da piscicultura: tempo de união e comunicação

Data de Publicação: 2 de janeiro de 2025 14:36:00 A piscicultura brasileira enfrenta desafios significativos, especialmente para pequenos e médios produtores. Enquanto a PeixeBR destaca conquistas, vozes como a de Emerson Esteves, da PeixeSP, alertam para uma crise iminente. Este artigo reflete sobre a necessidade de união, comunicação eficaz e uma nova abordagem para fortalecer o setor.

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 A piscicultura brasileira enfrenta desafios significativos, especialmente para pequenos e médios produtores. Enquanto a PeixeBR destaca conquistas, vozes como a de Emerson Esteves, da PeixeSP, alertam para uma crise iminente. Este artigo reflete sobre a necessidade de união, comunicação eficaz e uma nova abordagem para fortalecer o setor.

 

Foto: Antônio Oliveira

Por Antônio Oliveira

Nos últimos 10 anos, a aquicultura brasileira, principalmente a vertente piscicultura, enfrentou grandes desafios e venceu vários deles, destacando-se como um dos setores de produção de alimentos que mais tem crescido no Brasil. No Instagram da PeixeBR (Associação Brasileira de Piscicultura [@peixebroficial]), o presidente desta instituição, Francisco Medeiros, faz um balanço do setor, destacando seus desafios e conquistas. De acordo com suas palavras, vai tudo bem com o setor. Concordo com ele se olharmos apenas para as grandes empresas e cooperativas no Sul e Sudeste do Brasil.

Já, também no Instagram, o tesoureiro da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (PeixeSP), Emerson Esteves (@emersonesteves01), é mais realista e alerta para o que ele classifica como “a pior crise já vivida pela piscicultura brasileira”, citando os motivos e as consequências de um possível aumento de preços nos insumos para a piscicultura.

Mas o que mais me chamou a atenção na fala do Emerson é o seu chamamento para a necessidade de união e compreensão de toda a cadeia produtiva de peixes de cativeiro – da produção de alevinos ao processamento  – e da cadeia de insumos, para evitar uma quebra de pequenos e médios produtores Brasil afora. É uma tecla que venho batendo há muito tempo, junto com outra: a pesca (empresarial) e a aquicultura (principalmente a piscicultura) repetem os mesmos erros cometidos pelo agronegócio de terra (agropecuária): falta de comunicação, marketing e humildade.

 

"Um exemplo que a PeixeBR ainda não se deu conta: a piscicultura, principalmente sua representação, ainda não conseguiu o devido e merecido espaço no jornalismo de agronegócio no Brasil"

 

Iniciativas isoladas no universo do agronegócio de terra, nos últimos dois anos, procuram corrigir esses erros, pois perceberam que a falta de comunicação e marketing causa problemas na imagem e nos resultados esperados do agronegócio. E a tendência é que cada vez mais instituições do agronegócio de agricultura e pecuária busquem reverter essa situação, que deixa o setor com uma imagem negativa nas sociedades urbanas, com reflexos internacionais. O setor precisa ter a sociedade como aliada, não como parceira de seus críticos, Brasil afora e Brasil adentro.

Mas o setor de piscicultura – e aqui, neste artigo, mantenho meu foco na piscicultura, por ser um setor mais abrangente e no qual tenho um dos  meus focos editoriais, difusão e integração – precisa, também, repensar-se.

Foco aqui na PeixeBR, entidade criada há dez anos, que congrega grandes empresas nacionais e multinacionais da cadeia produtiva de peixes de cultivo. Desde sua criação, a entidade tem obtido grandes conquistas e fomentado o crescimento e a organização da cadeia da piscicultura. Criou serviços e produtos que revolucionaram a piscicultura, como o Anuário PeixeBR e, em parceria com o Cepea, a cotação semanal dos preços pagos pela tilápia nos principais centros produtores da espécie no Brasil.

O atual presidente, Francisco Medeiros, está há quase dez anos na presidência. É ele, sem dúvida e por justiça, o principal divisor de águas na piscicultura brasileira. Arregaçou as mangas e está sempre em diferentes regiões do Brasil ajudando a organizar a cadeia, promovendo a cultura, entre outros afazeres. A PeixeBR e a piscicultura brasileira como um todo devem muito a ele, que, inclusive, talvez por falta de recursos, se desdobra em assessor de comunicação e garoto-propaganda.

Muitas tarefas em suas costas. E seus pares? Estes têm sito de uma competência muito grande na arte de empreender neste setor. Porém têm deixado a desejar no coletivo, na luta pelos interesses de classe.

Contudo, por falta de recursos – o que é uma incoerência, uma vez que a PeixeBR é constituída por grandes e megas empresas do ramo – e por incompetência e arrogância nas áreas da comunicação e do marketing, a entidade representativa da piscicultura ainda não conseguiu estar mais presente entre as famílias brasileiras por meio de seus produtos.

Um exemplo que a PeixeBR ainda não se deu conta: a piscicultura, principalmente sua representação, ainda não conseguiu o devido e merecido espaço no jornalismo de agronegócio no Brasil. Somos, atualmente, entre 7 e 10 jornalistas especializados em pesca e aquicultura em todo o Brasil (infelizmente, um fazendo oposição ao outro, num infeliz amadorismo, quando deveria haver união da classe, salvo exceções). Há tempos não conseguimos passar desses números. Eu mesmo participo de um grupo no WhatsApp com mais de 500 jornalistas de agro e tento motivá-los, inclusive a participar de eventos da pesca e aquicultura. Nunca vi interesse e envolvimento como se interessam e se envolvem, até apaixonadamente, por eventos do agronegócio de terra, como a Agrishow, Tecnoshow, Expozebu, Expointer, Bahia Farm Show, Expodireto Cotrijal, entre outros.

E por falar em feiras, aquelas voltados para a pesca e aquicultura, a exemplo  da Fenacam, a Aquishow Brasil, a Seafood Show e o IFC Brasil, elas têm preenchido a lacuna deixada pela PeixeBR, no que diz respeito ao marketing do pescado brasileiro. Qual seria a participação da PeixeBR no custo  total de cada um destes eventos e no trabalho da associação neles, além de instalar um estande de representação?

São falhas muito grandes que podem ser atribuídas à falta de comunicação, marketing, despreendimento e humildade de toda a PeixeBR.

A PeixeBR precisa ser repensada, oxigenada por meio de novas cabeças em sua direção geral. Nem sempre mandatos consecutivos mantêm os resultados de uma primeira e segunda gestões de um mesmo presidente. Mas se querem manter o atual presidente, que o municie de plenas condições para dar uma guinada na instituição, investindo em comunicação e marketing.

Abrindo um parêntese, a PeixeBR tem, em sua assessoria, uma das mais competentes agências de assessoria de comunicação do Brasil, mas que, obvio, precisa de recursos e autonomia para conseguir projetar melhor o setor.

Disposição, engajamento e paixão, Francisco tem de sobra para isso. Mas não estaria cansado, desmotivado ou “peado” pela falta de desprendimento e visão de comunicação e marketing dos seus pares na associação?

****

Saindo deste campo e passando para as políticas públicas e para o setor privado da piscicultura fora do eixo Sul e Sudeste.

Neste universo há uma desorganização muito grande, com a falta de espírito associativista, cooperativista e de integração que impede o setor de crescer.

Quanto aos governos, muitos deles têm usado o setor como vitrine para marketing político, barganhando diretorias e secretarias por interesses partidários, mas com orçamento muito aquém das necessidades...

... E por aqui eu paro, esperando que toda esta situação aqui discorrida mude para melhor e que o setor nos grotões do Brasil persiga a organização da cadeia em estados como Paraná, Santa Catarina, São Paulo e, mais recentemente, neste universo de profissionalismo e empreendedorismo, Minas Gerais.

E que a PeixeBR se repense.

#Piscicultura #PeixeBR #Aquicultura #Sustentabilidade #Agronegócio #Comunicação #Integração #CadeiaProdutiva #DesenvolvimentoRural #CriseNaPiscicultura

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