Por Antônio Oliveira*

Não faz muito tempo, para ter ao menos o básico na mesa dos brasileiros, o Brasil importava alimentos de outros países. Atualmente, é um dos maiores exportadores de cereais, frutas, proteína animal, algodão, entre outros produtos agropecuários e de pescados. O país superou em produção, produtividade e qualidade muitos dos países de onde importou a genética de grande parte do que produz, como gado bovino, soja, frango e peixe (como a tilápia), entre outros.

Capa da Folha em 23 de maio de 1989 (Foto: Reprodução/Folha)

Desnecessário incluir neste artigo números de produção e valores da balança comercial da agropecuária brasileira. Também é desnecessário afirmar que o grande responsável por esse espetacular avanço é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), fruto do idealismo de homens públicos como Eliseu Alves e Alysson Paolinelli; um orgulho para o Brasil e apenas uma vitrine para os políticos de alçada federal.

Sempre festejada em público, nos gabinetes oficiais a empresa é tratada em segundo plano, com um orçamento muito aquém de suas reais necessidades. Já chegou a ser preparada — e sufocada — em um dos governos do PT para ser privatizada, o que não ocorreu graças, por incrível que pareça, a protestos de um grupo de sem-terra e pequenos camponeses. Esses protestos foram levados à frente e até barrados por três veículos de comunicação: dois de São Paulo e um do interior do Brasil, que foi a minha revista impressa, Cerrado Rural Agronegócios. Além de repercutir a denúncia daqueles camponeses, a revista foi até o gabinete do então presidente da Embrapa, Pedro Arraes, e o entrevistou sobre um suposto esquema em curso para a venda da estatal. Claro que ele negou tudo, mas o resultado, após a pressão desses três veículos, foi que essa história de mau gosto foi encerrada, o Governo Federal percebeu o equívoco que cometeria.

A Embrapa, por meio de seus 47 centros nacionais de pesquisa, é, sem margem de dúvidas, a grande responsável por esta revolução verde e azul que o Brasil está vivendo. Deveria ser alvo de especial atenção e respeito dos governos que se instalam sucessivamente no Planalto Central, não apenas uma vitrine ou retórica de seus discursos.

Suas unidades de pesquisa e melhoramento genético, até mesmo a própria sede da empresa em Brasília, estão sempre em apuros por falta de recursos para iniciar ou dar continuidade a pesquisas.

Nesta manhã, por exemplo, ao abrir o noticiário nacional, antes de iniciar meu trabalho na administração deste site, deparei-me com uma lamentável notícia originada em uma das mais importantes unidades de pesquisa da estatal federal, a Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora – MG). A informação é do portal AGfeed e começa assim:

“Infelizmente, trago notícias bem preocupantes.” Assim começa o e-mail enviado no início desta semana pelo chefe-geral em exercício da unidade de pesquisas de gado de leite da Embrapa, Jorge Fernando Pereira, à sua equipe.

Conforme o AGfeed, em documento ao qual ele teve acesso, consta que a Embrapa Gado de Leite não recebeu os recursos orçamentários suplementares necessários para o fechamento das contas do exercício de 2024. Além disso, o Chefe-Geral da Gado de Leite relatou à sua equipe a existência de um débito de R$ 962.774,36, equivalente às despesas do último semestre de 2024. Ele expôs atrasos nas contas de energia, água, internet, correios, combustível, pagamento de serviços de limpeza, segurança e portaria, entre outros.

Jorge Fernando Pereira, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, ainda conforme o AGfeed, nesta mesma correspondência, anunciou um programa de renegociação dessas dívidas com fornecedores, suspensão de serviços e até mesmo a proibição de utilização de aparelhos de ar condicionado.

- Espero que não falte ração para as “mimosas” - desejo eu aqui do Cerrado.

O AGfeed, nesta mesma matéria, considera que o problema da Embrapa Gado de Leite “é ínfimo perto do geral da Embrapa.” A principal instituição de pesquisa agropecuária do país, citada como responsável pela pujança do agronegócio brasileiro, informou ao AGfeed que iniciou 2025 com um rombo de R$ 200 milhões em suas contas.

Sede da Embrapa Gado de Leite, em Minas Gerais (Foto: Embrapa)

Ao portal que aqui me serve como fonte, a sede da Embrapa informou que o orçamento da estatal, associada aos principais avanços da agropecuária nacional nas últimas décadas, foi reduzido em 80% ao longo dos últimos dez anos. Neste mesmo período, a empresa estatal gerou um lucro social anual — retorno de suas pesquisas para todos os brasileiros — da ordem de R$ 85 bilhões.

Duas realidades, uma negativa e a outra positiva, vão compondo a história da gloriosa empresa que nunca aceitou, em nenhum governo, ser vaquinha de presépio, marionete ou antro de corrupção e desmandos.

Por falar nisso, acho uma vergonha que a Embrapa passe por isso, enquanto a até há pouco tempo também não menos gloriosa Codevasf tenha sido transformada — e retirada de seu curso natural, “a jusante e a montante” — na última gestão federal em uma grande central de atividades suspeitas, com muito dinheiro derramado em emendas para beneficiar currais eleitorais dos nobres (os são?) deputados federais e senadores – salvo exceções. Enquanto isso, uma estatal que se mantém séria e focada em seus objetivos vai se definhando.

É esperar pelo bom senso e sensibilidade do presidente Lula em ações que tirem a Embrapa do buraco em que está entrando.

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