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ESPECIAL/ MULHERES QUE TRANSFORMAM: O crescimento do empreendedorismo feminino no comércio exterior

ESPECIAL/ MULHERES QUE TRANSFORMAM: O crescimento do empreendedorismo feminino no comércio exterior

Data de Publicação: 10 de março de 2025 10:25:00 Empreendedoras brasileiras vêm se destacando em um setor tradicionalmente masculino, com programas de apoio impulsionando sua presença no mercado internacional.

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Da redação

Mulheres empreendedoras brasileiras estão cada vez mais incentivadas a romper fronteiras e revelar seu potencial no mercado global. Em 2024, o programa Mulheres e Negócios Internacionais (MNI), da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), beneficiou diretamente 1.437 empresas lideradas por mulheres, evidenciando o crescente interesse das empresárias pelo comércio internacional e sua busca por um espaço mais significativo nessa área.

Um exemplo notável desse movimento é Damaris Eugenia Ávila da Costa, fundadora e CEO da Braseco, uma comercial exportadora especializada em materiais de construção, e presidente do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (CECIEx), que conta com 1.131 comerciais associadas. Damaris iniciou sua carreira em 1978, em uma época em que a presença feminina no comércio exterior era escassa.

- Comecei porque falava inglês, mas nunca tinha trabalhado na área. No primeiro dia, quando meu chefe explicou o trabalho, já me apaixonei pelo comércio exterior - relembra.

Hoje, não apenas consolidou sua posição no setor, mas também se tornou um ícone e uma fonte de inspiração para outras mulheres que desejam seguir esse caminho.

- Os obstáculos existem, mas são cada vez menores - afirma a empreendedora.

Em São Paulo, seminário debateu equidade de gênero nos negócios
internacionais e apresentou resultados do Programa Mulheres e Negócios
Internacionais (MNI), em março de 2024. (Foto: ApexBrasil)

Ela relata que, no começo da carreira, especialmente ao interagir com culturas onde os negócios eram tradicionalmente realizados por homens, enfrentou vários desafios.

- Quando viajava para a África e Oriente Médio, frequentemente perguntavam quem era meu chefe. No Kuwait, por exemplo, houve uma situação em que não consegui me hospedar em um hotel diferente daquele onde estavam os demais membros da delegação porque estava sozinha - compartilha.

No entanto, com preparo e experiência, conquistou respeito e credibilidade.

- Quando percebem que a mulher está preparada, eles passam a nos respeitar e confiar no nosso trabalho - enfatiza.

Para Damaris, a capacitação é crucial.

- Participar de eventos internacionais, compreender a cultura de cada mercado e aprender idiomas são passos fundamentais - aconselha, acrescentando que coragem e foco são indispensáveis para o sucesso no comércio exterior.

- Muitas mulheres têm medo de falhar, de investir e não obter retorno. Mesmo com toda a capacidade de criar e produzir, às vezes falta apoio da família ou do parceiro, o que a faz sentir-se incapaz. Mas eu digo que é preciso ter coragem e foco. Se der errado, comece de novo. O importante é se posicionar como profissional, sem medo de se impor - incentiva.

Ela destaca também a importância de programas como o MNI, da ApexBrasil, na capacitação e ampliação das oportunidades para empreendedoras.

- Esses programas ajudam as mulheres a enxergar além das fronteiras. O Brasil tem muitas empresárias, mas poucas pensam em exportar. Quando recebem informação e incentivo, percebem que é possível e que há muito espaço para elas no comércio internacional.

Damaris menciona ainda que a contribuição da ApexBrasil foi essencial em sua trajetória.

- Posso afirmar que houve um 'antes e depois' da Apex na minha carreira. Com o apoio que recebi, abri novos mercados para a minha empresa, como Oriente Médio e Norte da África, e participei de feiras e missões comerciais que foram fundamentais para expandir nossos negócios - afirma.

Além de fornecer treinamentos e eventos de networking, a ApexBrasil auxilia na organização de rodadas de negócios e na preparação de reuniões estratégicas, facilitando o contato direto com compradores internacionais.

- Sem essa estrutura e apoio, levaria muito mais tempo e recursos para alcançar esses resultados. Ter essa orientação faz toda a diferença na hora de negociar e fechar contratos - ressalta Damaris.

Transformando a exportação brasileira

De acordo com um estudo publicado em 2023 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), apenas 14% das empresas exportadoras brasileiras têm maioria feminina entre os sócios. Esse número destaca a necessidade de maior inclusão e incentivo para que mais mulheres ingressem nesse setor. A partir dessa perspectiva, a ApexBrasil lançou, em junho de 2023, o MNI, que visa ampliar a participação feminina na base exportadora do Brasil e nas cadeias globais de valor. Em parceria com mais de 65 instituições, o programa oferece capacitações, mentorias, networking e diversas ações de promoção comercial e investimentos internacionais.

- A expectativa é que o programa também fortaleça sua interseccionalidade com raça e etnia, no ecossistema de negócios internacionais e de empreendedorismo feminino junto a redes de relacionamento e comunidades nacionais e internacionais - explica Maira Cauchioli, analista da diretoria de Negócios da ApexBrasil e líder do MNI.

Os resultados obtidos pelo MNI demonstram o impacto positivo dessa iniciativa. No final de 2023, o número de empresas lideradas por mulheres apoiadas pela ApexBrasil cresceu 33,4%, indo de 1.189 empresas em 2023 para 1.437 em 2024. Dessas, 63% são de micro e pequeno porte, e 37% são de médio e grande porte.

Ao longo do último ano, o programa realizou 78 ações, divididas em 67 iniciativas inclusivas e 11 específicas para mulheres. As iniciativas inclusivas garantem benefícios como vagas prioritárias, pontuação extra, critérios de desempate e descontos para participação em eventos e treinamentos da ApexBrasil.

Uma ação inclusiva de destaque foi a edição do programa Exporta Mais Brasil, realizada em novembro em Manaus (AM), voltada para o setor de cosméticos e ingredientes. Nesse evento, adotaram-se critérios de pontuação que favoreceram a participação feminina. Como resultado, a maioria das empresas selecionadas foram lideradas por mulheres: 20 das 28 participantes tinham liderança feminina, gerando mais de R$ 8 milhões em acordos comerciais imediatos e futuros.

As ações específicas têm foco na inserção de mulheres no comércio exterior, como o programa Elas Exportam, em parceria com o MDIC, que promove trocas de experiências entre empreendedoras exportadoras e aquelas que desejam ingressar no mercado internacional.

- Incluir as mulheres nos fluxos de comércio exterior e na atração de investimentos estrangeiros diretos tem impactos imediatos, como a geração de mais riqueza e renda. Isso também gera o que chamamos de impactos intergeracionais - ressalta Ana Paula Repezza, diretora de negócios da ApexBrasil e idealizadora do MNI.

- A inclusão feminina nos negócios internacionais é estratégica para o crescimento econômico, pois empresas exportadoras tendem a ser mais produtivas, já que o comércio internacional amplia mercados, aumenta vendas e facilita o acesso a novas tecnologias.

 

"Quando percebem que a mulher está preparada, eles passam a nos respeitar e confiar no nosso trabalho"

 

- O Dia Internacional das Mulheres é um momento para reafirmar que há espaço para as empreendedoras no comércio internacional, e as histórias de sucesso estão aqui para comprovar. Cada vez mais, empresárias conquistam mercados globais, impulsionadas por capacitações e novas oportunidades. Incluir mais mulheres no setor não é apenas uma questão de equidade; é um caminho para fortalecer a inovação e o crescimento econômico - destaca a diretora.

Em 2024, o MNI recebeu o Prêmio de Boas Práticas do Movimento Elas Lideram 2030, concedido pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU, e o Prêmio World Trade Promotion Organization (WTPO) Awards 2024, do International Trade Centre (ITC), na categoria "Melhor iniciativa que garante a inclusão e sustentabilidade de um negócio."

- Cada premiação é uma vitória da sociedade e uma prova concreta de que estamos no caminho certo - afirmou Ana Paula Repezza.

Ainda como parte do MNI, algumas iniciativas tiveram destaque em 2024, como o Seminário Brasil-Chile: Mulheres Conectando Fronteiras, realizado em agosto, durante a visita do presidente Lula ao Chile, com foco nas políticas de inserção das mulheres no comércio exterior. Realizado em parceria entre o MRE, o MDIC e a ApexBrasil, pelo lado brasileiro, e a Subsecretaria de Relações Econômicas Internacionais (Subrei) e a ProChile, pelo lado chileno, o evento promoveu o intercâmbio comercial entre empreendedoras chilenas e brasileiras.

Outra importante ação na promoção da igualdade de gênero no comércio internacional foi a parceria da ApexBrasil com o International Trade Centre (ITC), assinada em outubro, que inseriu o Brasil na rede SheTrades Hub. Essa rede mundial, presente em 18 países, capacita empreendedoras com informações, acesso a financiamentos, desenvolvimento de habilidades e conexões necessárias que resultem no aumento da participação feminina nos negócios internacionais. Trata-se de um centro global de recursos e treinamento onde mulheres podem aprender, se conectar com o universo de vendas internacionais e fazer negócios.

Em dezembro, o Brasil foi o país convidado de honra da Expoartesanías 2024, uma das maiores feiras de artesanato da América Latina, realizada em Bogotá, Colômbia. Focando na valorização do trabalho feminino, o Pavilhão Brasil exibiu mais de 240 peças de mais de 100 artesãs de 23 estados, englobando tipologias como moda, cerâmica, decoração, cestaria e instrumentos musicais. A participação brasileira foi organizada pela ApexBrasil no contexto do programa MNI, em parceria com o Ministério das Mulheres, o Sebrae Nacional, o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), e o MDIC.

- Para 2025, estamos prevendo novas frentes de atuação, e nossa expectativa é ampliar o impacto do programa Mulheres e Negócios Internacionais, integrando mais empresas lideradas por mulheres no comércio exterior. Além disso, continuaremos trabalhando para expandir a interseccionalidade de raça e fortalecer a rede de mulheres que atuam no mercado internacional. Com o apoio de diferentes parceiros, podemos construir um ambiente de negócios mais inclusivo e equitativo, criando novas oportunidades para as empreendedoras brasileiras - ressalta Maira Cauchioli.

Maira acrescenta que as parcerias desempenham um papel essencial nesse processo, fortalecendo iniciativas e possibilitando avanços significativos. Um exemplo é a parceria com o Banco do Brasil, que lançou, em abril do ano passado, o Programa Primeira Exportação - Edição Mulheres no Mundo para impulsionar micro e pequenas empresas (MPEs) lideradas por mulheres no mercado internacional. Essa iniciativa visa oferecer capacitação e assessoria gratuita a cinco mil empresas com potencial exportador em todo o Brasil.

Outro caso é o projeto Amazing Foods Brazil Inspired by Women, desenvolvido pela Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), em parceria com a ApexBrasil. A iniciativa, que completou um ano em fevereiro, promove atividades voltadas para a equidade de gênero nos setores relacionados ao comércio exterior da indústria nacional de alimentos, realizando treinamentos, webinars, participações em feiras e rodadas de negócios.

Mulheres participam de rodada de negócios durante a Missão Brasil-África
Solutions na África do Sul, em junho de 2024 (Foto: ApexBrasil)

Essas parcerias, junto com o compromisso da ApexBrasil de promover a equidade de gênero, firmado em março de 2023, são fundamentais para garantir igualdade de oportunidades no comércio exterior. O compromisso abrange tanto a governança da Agência quanto programas desenvolvidos em conjunto com diversos setores produtivos. Baseado em cinco pilares — equidade, capacitação, apoio, cooperação e transparência — o compromisso busca fomentar a igualdade entre homens e mulheres no comércio exterior. Entre as iniciativas destacadas, está o programa Mulheres e Negócios Internacionais, que também completará dois anos em junho, além do incentivo à capacitação, à remoção de barreiras discriminatórias e à formação de parcerias estratégicas.

Elas Exportam

"Aprender com quem já sabe" é a proposta do programa Elas Exportam, que está prestes a iniciar sua 4ª edição. A iniciativa, realizada no âmbito do MNI, reúne mulheres com experiência em exportação (mentoras) e aquelas que estão começando sua jornada (mentoradas), promovendo aprendizado e trocas valiosas que beneficiam todas as envolvidas.

A empresária Isabel Ribeiro, da Amarjon Biojoias, é um exemplo de sucesso que ampliou seus negócios após participar como mentora na 3ª edição do programa.

- Me ajudou a entender melhor os diferenciais da minha marca e a enxergar novas oportunidades de crescimento -  afirma.

Após a experiência, Isabel conseguiu exportar para países como Turquia, Estados Unidos, França, Japão, Itália e Canadá, fortalecendo sua credibilidade no mercado global.

- A troca de experiências entre as participantes foi enriquecedora e trouxe aprendizados valiosos - destaca.

Outra empreendedora impactada positivamente foi Fernanda Zanuto, da FZ Confecções, especializada na produção de biquínis, maiôs e saídas de praia. Como mentorada na mesma edição do programa, Fernanda recebeu orientação estratégica para adaptar sua empresa ao mercado internacional.

- O Elas Exportam me permitiu perceber falhas que antes passavam despercebidas e, com isso, aprimorar processos essenciais para a expansão da minha empresa - conta.

Durante a mentoria, identificou problemas de comunicação que afetavam suas operações e, com o suporte da mentora Amanda Vieira Pinheiro Medrado, encontrou soluções que facilitaram a entrada da marca no comércio exterior.

Para Fernanda, a troca de experiências com outras empresárias foi um dos pontos mais valiosos do Elas Exportam.

- Saber que outras mulheres enfrentam desafios semelhantes e compartilhar soluções foi enriquecedor. O programa oferece suporte fundamental para quem deseja se posicionar no mercado internacional -  enfatiza.

Inscrições abertas

O Elas Exportam está com inscrições abertas para sua 4ª edição, que terá início em abril. Estão disponíveis 50 vagas para mentoradas e 50 para mentoras.

As inscrições para mentoradas estão abertas até 10 de março, neste link.
Para mentoras, as inscrições permanecem disponíveis ao longo do ano, neste link.
Saiba mais sobre o MNI aqui.

Com informações da ApexBrasil.

EMPREENDEDORISMO FEMININO

 

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