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AQUICULTURA – Embrapa Cerrados anuncia sua entrada nas pesquisas de organismos aquáticos
Data de Publicação: 3 de março de 2025 10:16:00 A Embrapa Cerrados inicia ações na aquicultura, promovendo parcerias para pesquisa e desenvolvimento no Cerrado. Leia, anexo a matéria, a opinião do editor deste site, Antônio Oliveira, sobre esta iniciativa.
A Embrapa tem passado por um período muito difícil. Atualmente, está enfrentando mais um desafio em sua longa história de sucesso no campo das pesquisas e tecnologias, catapultando a agropecuária brasileira no cenário nacional e internacional de produção de alimentos, fibras e bioenergia. Os recursos financeiros destinados pelo Governo Federal para a estatal não fecham as contas das necessidades da empresa.
Contudo, a empresa, vez por outra, tem se dividido, em vez de somar: uma unidade fazendo o trabalho da outra. Pode ser que eu esteja errado, mas aqui está mais uma da gloriosa Embrapa: a mais antiga unidade da Embrapa, responsável pelas pesquisas e validação da agricultura no bioma Cerrado, a Embrapa Cerrados, anuncia que vai investir na pesquisa em aquicultura. A justificativa que será pesquisas voltadas para o Cerrado. A Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), está sediada no Cerrado e, embora venha dando um show na sua área, carece de recursos e recursos humanos. Errado. A menos que a Embrapa Cerrados seja apenas um ponto de apoio para o trabalho da sua irmã, Pesca e Aquicultura, com crédito para esta. E os recursos financeiros, também.
(Antônio Oliveira)
Da redação
A aquicultura, um segmento em significativa expansão globalmente, se torna uma nova linha de atuação da Embrapa Cerrados. Desde o início deste ano, a Unidade tem buscado interações com potenciais parceiros para discutir ações de pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia nesse campo no Cerrado. Essa iniciativa foi destacada pelo pesquisador Luiz Eduardo Lima, que recentemente se juntou ao centro de pesquisa após dez anos na Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), durante uma palestra realizada em 24 de fevereiro.
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Apresentação de Luiz Eduardo Lima (Foto: Breno Lobato)
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Estiveram presentes na palestra, além de pesquisadores e analistas do centro, representantes de diversas instituições, como a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal (Seagri-DF), a Emater-DF, o Senar-DF, a Federação da Agricultura e Pecuária do DF (FAPE-DF), a Emater Goiás, a Universidade de Brasília (UnB) e a Secretaria Municipal de Agricultura de Formosa (GO).
A aquicultura é a ciência dedicada ao estudo da produção de organismos aquáticos, como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis, algas e plantas aquáticas voltados para o consumo humano. Eduardo Alano, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Unidade, ressaltou a demanda crescente da sociedade e do setor produtivo no DF para a atuação da Embrapa na aquicultura, destacando sua alta capacidade de geração de renda e a habilidade de integrar diversos sistemas de produção.
Panorama mundial
Conforme as estatísticas mais recentes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a produção global de pescados, que inclui tanto a aquicultura quanto a pesca, alcançou 185 milhões de toneladas em 2022, com um valor agregado de US$ 452 bilhões. Luiz Eduardo Lima comentou que a cadeia de pescados é a mais volumosa dentre todos os segmentos de produção de proteína animal e também a mais consumida no mundo. Ele destacou que, de 1961 a 2022, o consumo de pescados desenvolveu uma taxa média de crescimento de 3% ao ano, superando o crescimento médio de todas as proteínas terrestres (2,7% ao ano) no mesmo período.
O ano de 2002 foi um marco, pois pela primeira vez a produção da aquicultura superou a pesca, que enfrentava estagnação devido a problemas na exploração dos recursos pesqueiros. O consumo mundial de pescados é de aproximadamente 20,6 kg por habitante ao ano e tem-se observado uma crescente substituição de produtos pesqueiros por aqueles da aquicultura. Lima mencionou que isso representa uma oportunidade promissora, visto que os produtos aquícolas têm maior rastreabilidade e melhores indicadores ambientais em comparação com a pesca.
A produção mundial da aquicultura, segundo a FAO, foi de cerca de 130 milhões de toneladas em 2022, o que equivale a US$ 312,8 bilhões. Entre 2000 e 2022, houve um impressionante aumento de 204,3%, com uma média de crescimento de 5,2% ao ano. A China destaca-se como o maior produtor, com 53 milhões de toneladas, enquanto o Brasil ocupa a 13ª posição, com 738 mil toneladas produzidas no mesmo ano.
De acordo com Lima, os benefícios do consumo de pescados, que proporcionam proteína de alta digestibilidade e são ricos em minerais, vitaminas e gorduras poli-insaturadas, especialmente o ômega-3, são fatores chave para o crescimento da aquicultura. Ele explicou que os organismos aquáticos, por viverem em água, consomem menos energia para flutuar e se locomover. Além disso, eles não regulam a temperatura corporal e excretam nitrogênio de forma mais eficiente que os organismos terrestres. Esses fatores garantem uma conversão alimentar eficaz, onde certos peixes e camarões necessitam de menos de 2 kg de alimento para produzir 1 kg de carne, enquanto bovinos precisam de 3,5 a 9 kg.
O sistema produtivo da aquicultura apresenta ainda outras vantagens, incluindo uma baixa pegada de carbono, menor uso da terra e altos rendimentos de carcaça e taxa de retenção proteica.
Aquicultura nacional e regional
Embora ainda represente uma fração menor do mercado mundial, a aquicultura brasileira apresenta um grande potencial de expansão, conforme afirmações do pesquisador. Nos últimos anos, essa atividade tem mostrado crescimento significativo; entre 2000 e 2022, a produção aumentou de 172 mil para 738 mil toneladas. O IBGE estima que o valor da produção nacional para 2023 será de R$ 10,2 bilhões, uma alta de 16,6% em relação ao ano anterior.
A piscicultura de água doce é o carro-chefe da aquicultura nacional, com previsão de produção de 655 mil toneladas e um valor de R$ 6,7 bilhões em 2023, 5,8% maior que o anterior. A tilápia é o peixe mais cultivado no Brasil, representando 67,5% da produção total, com um aumento de 7,6% em relação a 2022*. O país já é o quarto maior produtor mundial da espécie. Na criação de animais marinhos, a carcinicultura é destaque, com uma produção de 127,5 mil toneladas e crescimento de 13% em relação ao ano anterior.
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Via aérea parcial da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas -TO (Foto: Embrapa)
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Os principais estados produtores são Paraná, São Paulo e Rondônia. No contexto em que a Embrapa Cerrados está inserida, Minas Gerais é o quarto maior produtor nacional, com 61,6 mil toneladas em 2023, destacando-se na produção de tilápias. O município de Morada Nova de Minas, localizado junto à Represa de Três Marias, é o maior produtor de pescados do Brasil, responsável por 3,1% da produção nacional. Goiás ocupa a 11ª posição, com 29,8 mil toneladas, onde Niquelândia se destaca como o principal município produtor.
O DF, em contraste, é apenas o 24º maior produtor, com 2 mil toneladas em 2023. Dados da Emater-DF revelam que cerca de 800 piscicultores locais são, na maioria, pequenos produtores, além de contarem com alguns estabelecimentos de pesque-pague e empresas de médio e grande porte, que ocupam uma área total de cerca de 80 hectares.
No entanto, o pesquisador destacou o potencial do DF como o terceiro maior consumidor de pescados do Brasil, com cerca de 14 kg por habitante ao ano, superando a média nacional de 9 kg, e também a recomendação da Organização Mundial de Saúde, que sugere um consumo de 12 kg. Contudo, o consumo ainda é inferior à média mundial, que é de 20,5 kg por habitante ao ano.
Apenas 14% das 50 mil toneladas de pescados consumidas no DF em 2023 foram produzidas localmente, sendo que 86% do total foi importado de estados como São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Paraná.
Possibilidades de atuação no DF
Para explorar o potencial de crescimento da aquicultura no Distrito Federal, Lima apresentou diversas estratégias para a Embrapa Cerrados. Ele reconheceu que existem desafios como licenciamento, tarifas e acesso a crédito, mas acredita que inovações tecnológicas podem facilitar a adoção de práticas produtivas eficientes, não apenas no DF, mas também em Goiás e outros estados.
O pesquisador mencionou a importância de colaborar com instituições que já estão ativas na aquicultura, como a Emater-DF, Seagri-DF, UnB, Senar e o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), visando desenvolver ações em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em conjunto.
Essas ações podem incluir participação em iniciativas como o Alevinar & ProAqua+, atividades em câmaras setoriais, e fóruns técnicos para identificar as demandas de PD&I do setor e das instituições. Além disso, a transferência de tecnologia será estratégica, através de eventos como dias de campo, e ao desenvolver projetos de PD&I que atendam necessidades específicas, como a criação de peixes em barragens para irrigação e o levantamento de indicadores econômicos da tilápia no DF.
Embora a Embrapa Cerrados não possua instalações específicas para pesquisas em aquicultura, Lima destacou que pode utilizar e aprimorar infraestruturas existentes, como as oferecidas pela Emater-DF e pela Seagri-DF, além de realizar pesquisas nas áreas de produtores rurais.
Outras possibilidades de atuação
A atuação em Goiás, em parceria com o Instituto Federal Goiano, a Universidade Federal de Goiás, a Universidade Federal de Jataí e a Emater Goiás, é mais uma possibilidade de colaboração. Lima também vê potencial na Usina Hidrelétrica (UHE) Serra da Mesa, em Niquelândia, que é o maior reservatório de água do Brasil, com uma capacidade de produção prevista de 21 mil toneladas de pescado, embora atualmente só sejam produzidas cerca de 4,2 mil toneladas.
Minas Gerais representa outra oportunidade, com possíveis parcerias com a Universidade Federal de Minas Gerais, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e a Codevasf. Embora existam diversas possibilidades, Lima planeja iniciar com poucos projetos, priorizando as áreas mais relevantes do setor e mantendo sempre parcerias com instituições e produtores locais.
Avaliação de coprodutos e aproveitamento de efluentes na fertirrigação
Lima apresentou exemplos práticos de trabalhos realizados durante sua experiência na Embrapa Pesca e Aquicultura, como a avaliação de coprodutos da agricultura e pecuária que podem ser utilizados como aditivos na alimentação de organismos aquáticos. Um exemplo é o uso de folhas e pecíolos de mandioca na ração para tambaqui na Amazônia. Em colaboração com a Embrapa Acre e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Lima também estudou a digestibilidade desses aditivos e os níveis que não comprometam o desempenho zootécnico do tambaqui.
Outro trabalho desenvolvido avaliou coprodutos da aquicultura em seu uso na agricultura, como subprodutos da indústria de macroalgas que podem servir como bioestimulantes e biofertilizantes para algumas culturas.
Lima explicou que os efluentes da piscicultura, que são ricos em nitrogênio e fósforo, podem ser reaproveitados na fertirrigação. Ele destacou que os peixes absorvem apenas cerca de 30% do nitrogênio e fósforo presentes em sua ração, enquanto os 70% restantes são despejados em corpos hídricos, predominantemente na forma solúvel. Assim, é possível integrar a aquicultura com culturas agrícolas, utilizando tecnologias apropriadas tanto para pequenos quanto para grandes produtores. Lima ainda mencionou a criação de peixes em barragens e canais de irrigação, bem como a aplicação de efluentes na fertirrigação, o que pode reduzir a dependência de fertilizantes agrícolas.
Em parceria com a Codevasf, a Embrapa implementou em Palmas um sistema de tanques suspensos de geomembrana que destina efluentes à fertirrigação em uma área de dois hectares. Testes com sistemas de irrigação por aspersão e gotejamento, juntamente com diferentes rotações culturais, estão sendo realizados. O objetivo é gerar indicador de quantidades de nutrientes como nitrogênio e fósforo produzidos pelos sistemas de criação de peixes, e determinar quanto essas plantas absorvem, possibilitando a economia de fertilizantes nas diversas culturas.
Instituições mostram otimismo e apontam demandas
Os representantes das instituições que participaram do debate após a apresentação expressaram vontade de colaborar em iniciativas conjuntas. Adalmyr Borges, coordenador do Programa de Aquicultura da Emater-DF, manifestou sua expectativa positiva com a chegada da experiência de Lima à Embrapa Cerrados. Ele enfatizou a necessidade de ampliar a forte ligação existente entre ambos os órgãos para incluir a aquicultura.
Borges destacou duas demandas fundamentais observadas pela extensão rural do DF. A primeira é a valorização, por meio da adequação das outorgas, dos reservatórios de geomembrana utilizados para irrigação. Ele menciona que, com os 247 pequenos reservatórios na bacia do Rio Preto, é possível dobrar a produção de pescado na região, ressaltando que pequenas ações podem resultar em grandes impactos. A segunda demanda refere-se à adequação dos custos de produção, vendo que as margens de lucro na aquicultura têm diminuído ao longo dos anos.
Hermano dos Santos, chefe da Unidade de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Codevasf, enfatizou a necessidade de "chacoalhar" o setor, sublinhando que a demanda no DF e seu potencial são claros. Ele defendeu a importância de pensar em infraestruturas para a difusão de tecnologias, como a Granja do Ipê (da Seagri-DF), e a necessidade de um projeto estruturado.
Adson Rodrigues, coordenador da Regional Planalto da Emater Goiás, abrangendo 19 municípios do Entorno do DF, reforçou que há uma grande oportunidade para a pesquisa nesta região, que já conta com piscicultura e demanda por resultados oficiais. Rodrigues mencionou o Projeto Fruticultura Irrigada no Vão do Paranã, liderado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás, com a participação da Embrapa Cerrados, que já está beneficiando 150 famílias de assentados de reforma agrária.
Rodrigues concluiu ressaltando que os pequenos agricultores precisam aproveitar esta infraestrutura disponível para diversificar suas produções. Ele reconheceu que a região possui um imenso potencial hídrico e que, embora a pesquisa oficial ainda seja limitada, os produtores têm logrado sucesso. Ele defendeu a criação de conexões entre esses agricultores e o desenvolvimento de trabalhos colaborativos.
Carlos Magno da Rocha, ex-presidente da Embrapa e ex-chefe-geral da Embrapa Cerrados e da Embrapa Pesca e Aquicultura, também participou da palestra e rememorou o início das pesquisas na aquicultura, ressaltando sua importância global. Rocha considera que iniciar essa nova linha de pesquisa na Embrapa Cerrados é um marco e que a aquicultura deve ser vista como uma atividade estratégica para o Brasil.
Ele expressou confiança no futuro do setor, especialmente num país que lidera a produção de grãos, sinalizando que não há problemas com a produção de ração. Rocha observou que, embora já haja trabalho significativo na região geoeconômica de Brasília, muitos continuam enfrentando dificuldades devido à falta de acesso ao conhecimento. Ele vê a vinda de Lima como uma valiosa oportunidade e um passo inicial promissor.
Após o debate, a liderança da Embrapa Cerrados manteve uma reunião com Lima e representantes das demais instituições, com o intuito de discutir colaborações futuras, definir prioridades a curto, médio e longo prazo e estabelecer uma estratégia de ação conjunta.
*Dados defasados. Clique aqui para atualização destas informações.
Texto produzido pela Comunicação da Embrapa Cerrados, com edição de Cerrado Rural Agro para esta publicação.

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