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CERRADO - Desmatamento no bioma supera Amazônia pela primeira vez

CERRADO - Desmatamento no bioma supera Amazônia pela primeira vez

Data de Publicação: 29 de maio de 2024 09:37:00 O Cerrado perdeu mais de 1,1 milhão de hectares em 2023, superando pela primeira vez o desmatamento registrado na Amazônia. A região do MATOPIBA lidera as taxas de desmatamento, agravando os desafios ambientais e sociais do Brasil

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O bioma Cerrado cobre 13 estados brasileiros e mais explorado nas regiões

Centro-Oeste e MATOPIBA (Foto: Antônio Oliveira/Cerrado Editora e Comunicação)

Da redação

O desmatamento no Cerrado aumentou 68%, atingindo mais de 1,1 milhão de hectares em 2023 e superando, pela primeira vez, as perdas registradas na Amazônia. A área equivale a 61% de todo o desmatamento registrado no Brasil no ano passado e equivale a quase 2,4 vezes todo o desmatamento registrado na floresta amazônica. Os dados foram publicados nesta terça-feira (28) pelo RAD (Relatório Anual de Desmatamento) e produzidos por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) na Rede MapBiomas.

Entre 2019 e 2023, foram 8,5 milhões de hectares de vegetação nativa desmatados no Brasil, sendo 52% na Amazônia e 39% no Cerrado. Apenas no ano passado, os dois biomas, que cobrem cerca de 73% do país, perderam juntos cerca de 1,5 milhões de hectares - 85% de todo o desmatamento mapeado em 2023. Na lista dos 50 municípios que mais perderam vegetação nativa, em 2023, 33 estão inseridos totalmente ou parcialmente no bioma Cerrado.

 

Apesar do aumento no Cerrado, o desmatamento total no Brasil registrou queda de 12% em 2023, passando de pouco mais de 2 milhões, em 2022, para 1,8 milhões de hectares, em 2023. Caatinga e Pantanal foram outros biomas que registraram aumentos, de 43% e 59%, respectivamente. Já a Mata Atlântica e o Pampa reduziram sua área desmatada em 60% e 50%.

- Combater o desmatamento no Cerrado se torna um desafio a mais em um contexto onde a legislação é permissiva no bioma. Por isso, precisamos ter mais transparência e controle sobre a questão da legalidade para que se possa aprimorar e desenhar políticas públicas e privadas, que acabem com o desmatamento ilegal e desincentive o desmatamento legal, visando um uso mais eficiente das áreas já desmatadas - alerta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

O desmatamento no Cerrado também repetiu o mesmo perfil registrado nos anos anteriores - cerca de 65% de toda a área desmatada foi perdida em alertas de grande porte, com mais de 100 hectares. Foi no Cerrado que pesquisadores registraram o maior alerta de desmatamento de todo o Brasil: 6,6 mil hectares foram desmatados em uma única área, no município de Alto Parnaíba (MA). O município de Baixa Grande do Ribeiro (PI), por sua vez, teve o desmatamento mais veloz do Brasil, derrubando 944 hectares, o equivalente a 8 parques do Ibirapuera, em apenas 8 dias.

A agropecuária, através da abertura de áreas para pastagens e lavouras, foi o vetor de pressão de pelo menos 98% de toda a área desmatada no Cerrado. Além disso, as formações savânicas do bioma – caracterizadas por suas árvores tortuosas e grande presença de arbustos – sofreram 74% de todo o desmate.
 

 

O maior alerta de desmatamento de todo o Brasil foi registrado em
Alto Parnaíba, no Maranhão, atingiu 6,6 mil hectares e foi detectado
pelo SAD Cerrado. (Fonte: Planet Imagens, MapBiomas Alerta, IPAM)

MATOPIBA lidera o desmatamento
 

A fronteira do MATOPIBA – região composta pelo Tocantins e partes dos Estados do Maranhão, Piauí e Bahia – concentra 74% de todo o desmatamento no Cerrado, com 826.805 hectares abertos. Cerca de 47% de toda a vegetação nativa suprimida no Brasil, durante o ano de 2023, está concentrada no Matopiba. O desmatamento na região foi quase duas vezes maior do que o registrado em toda a Amazônia, que perdeu 454 mil hectares em 2023.

Além disso, todos os 10 municípios que mais desmataram no Cerrado, estão nessa região. São Desidério (BA), líder isolado do desmatamento em 2023, derrubou mais de 40 mil hectares de vegetação nativa - um aumento de 9% em relação a 2022. Balsas (MA), segundo colocado no ranking, aumentou seu desmatamento em 33%, chegando a mais de 37 mil hectares derrubados.

- A região do MATOPIBA abriga os estados e municípios que são líderes do desmatamento no Cerrado e no Brasil, e que ocupam posições de destaque na produção de grãos, como soja e milho. Além disso, essa região apresenta características climáticas, relevo e solo propícios para a atividade agropecuária. Isso, atrelado a investimentos econômicos na região e avanços tecnológicos que favorecem a produtividade, faz com que o MATOPIBA concentre grande parte do desmatamento do Cerrado e que seja uma das regiões mais desmatadas do Brasil -  explica Roberta Rocha, pesquisadora do IPAM.
 

 

Estados e municípios
 

Dos 13 estados com áreas de Cerrado, 10 registraram aumento no desmatamento em 2023, sendo que Maranhão (111%), Tocantins (182%), Goiás (125%), Pará (270%) e Distrito Federal (613%) mais do que dobraram a área de vegetação perdida em comparação com 2022. Maranhão, Estado com o maior desmatamento registrado dentre todas as unidades da federação, e Tocantins, derrubaram cerca de 320 mil e 229 mil hectares de vegetação no Cerrado, respectivamente, totalizando 50% de tudo que foi suprimido no bioma no ano passado.

- A falta de fiscalização do desmatamento, além de poucas políticas e incentivos para conservação em áreas privadas favorece o desmatamento em todo o bioma, cuja vegetação nativa remanescente está majoritariamente localizada em áreas privadas, principalmente na região do MATOPIBA - destaca Júlia Shimbo, pesquisadora do IPAM.

 

Dos 1.422 municípios que possuem cobertura vegetal total ou parcialmente ocupada pelo Cerrado, 990 (70%) registraram pelo menos um alerta de desmatamento. São Desidério, no oeste baiano, que já havia liderado a lista dos municípios do Cerrado com maior área desmatada em 2022, foi o município brasileiro que mais desmatou em 2023: foram mais de 40.052 hectares derrubados em apenas um ano, um aumento de 9% em comparação com 2022.

Barão de Grajaú, um pequeno município de 19 mil habitantes no leste maranhense, registrou o maior aumento relativo de desmatamento no Cerrado. Foram 9.720 hectares derrubados em 2023, 1.266% a mais do que em 2022, quando 711 hectares de vegetação foram suprimidos. Sozinha, a área aberta em 2023 corresponde a 4% de toda a extensão do município, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O avanço do desmatamento no Cerrado também fez com que municípios que antes não figuravam entre os maiores desmatadores do bioma, entrassem na lista. Alto Parnaíba (MA), que desmatou mais de 29 mil hectares, com um aumento de 295% em relação a 2022; Rio Sono (TO), que aumentou seu desmatamento em 864%, ultrapassando 21 mil hectares; e Cocos (BA), onde a área devastada foi de mais que 20 mil hectares, com um aumento de 512%.

- A expansão do desmatamento para novas áreas com vegetação nativa remanescente no bioma gera diversos conflitos sociais e ambientais, com consequências negativas inclusive para o setor agropecuário, como o aumento da seca e escassez de água, o que pode ser ainda mais grave em um contexto de mudanças climáticas - aponta Fernanda Ribeiro, pesquisadora no IPAM.

Sobre o RAD e MapBiomas Alerta

O RAD (Relatório Anual de Desmatamento), da rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte, reúne dados consolidados de desmatamento de todo o Brasil. Ele analisa os alertas de desmatamento detectados entre 2019 e 2023, e que foram validados e refinados sobre imagens de satélite de alta resolução pelo MapBiomas Alerta.

Nesta quinta edição, no Cerrado, os alertas gerados pelo DETER (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real do INPE) e SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado do IPAM), e os alertas gerados nas regiões de transição entre os biomas, pelo SAD Caatinga (Sistema de Alerta de Desmatamento da Caatinga, da UEFS e Geodatin), SIRAD-X (Sistema de indicação por radar de desmatamento na Bacia do Xingu, do ISA), SAD Imazon (Sistema de Alerta de Desmatamento da Amazônia, do Imazon), SAD Mata Atlântica (Sistema de Alerta de Desmatamento da Mata Atlântica, da SOS Mata Atlântica e ArcPlan) e SAD Pantanal (Sistema de Alerta de Desmatamento do Pantanal, da SOS Pantanal e ArcPlan), foram utilizados para localizar os alertas de desmatamento nas imagens de satélite diárias de alta resolução espacial.

 

Esse é o primeiro ano em que o RAD inclui alertas emitidos pelo SAD Cerrado (desenvolvido pela equipe do IPAM, em parceria com o LAPIG/UFG e MapBiomas). No total, uma área de 243 mil hectares foi captada apenas pelo sistema, além de 567 mil hectares que foram detectados tanto pelo SAD Cerrado, quanto pelo DETER Cerrado. A inclusão desse novo sistema de alerta de desmatamento é importante, pois complementa os dados oficiais de mapeamento do desmatamento no Cerrado, contribuindo para enxergar o desmatamento nas formações não florestais (savanas e campos) do Cerrado.

Visando identificar omissões dos sistemas mensais de desmatamento, foram incluídos os polígonos do PRODES 2020 (Programa de Monitoramento do Desmatamento no bioma Cerrado do INPE), e estão em processo de validação os polígonos do PRODES 2021.

Todos os dados são disponibilizados de forma pública e gratuita em plataforma web para que órgãos de fiscalização, agentes financeiros, empresas e sociedade civil possam agir para reduzir o desmatamento. O relatório completo com todos os dados está disponível no site do MapBiomas Alerta.

*Texto produzido pela assessoria de imprensa do IPAM.

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