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ENTREVISTA - Falta de Investimentos: um obstáculo à produção agrícola no Brasil, diz Maurício Buffon, presidente da Aprosoja Brasil
Data de Publicação: 22 de outubro de 2024 18:24:00 Nesta entrevista exclusiva, o presidente da Aprosoja Brasil, critica a atuação do Governo Federal na agricultura, ressaltando a insuficiência de investimentos e a falta de crédito, que comprometem a produção, especialmente de soja. Ele defende que, ao respeitar questões ambientais, a agricultura pode impulsionar a arrecadação de impostos e melhorar os índices socioeconômicos do país, destacando a necessidade de um apoio governamental mais robusto.
Nesta entrevista exclusiva, o presidente da Aprosoja Brasil, critica a atuação do Governo Federal na agricultura, ressaltando a insuficiência de investimentos e a falta de crédito, que comprometem a produção, especialmente de soja. Ele defende que, ao respeitar questões ambientais, a agricultura pode impulsionar a arrecadação de impostos e melhorar os índices socioeconômicos do país, destacando a necessidade de um apoio governamental mais robusto.
Maurício Buffon, um tocantinense na presidência da Aprosoja Brasil (Foto: Comunicação/Aprosoja BR) |
Por Antônio Oliveira
Nesta entrevista concedida a este editor, o presidente da Aprosoja Brasil, Maurício Buffon, aborda a – conforme ele -, crítica situação da agricultura brasileira e a atuação insatisfatória do Governo Federal. Buffon destaca que os investimentos no setor são insuficientes e que muitos recursos destinados aos produtores estão sendo inviabilizados, frequentemente sob justificativas ambientais. Essa escassez compromete a produção agrícola, especialmente de soja e outros produtos essenciais. Ele aponta a falta de crédito como um fator crítico, uma vez que a lavoura requer investimentos constantes. O presidente defende que, respeitando as questões ambientais, a agricultura pode não apenas contribuir para a arrecadação de impostos, mas também melhorar os índices socioeconômicos do país. Buffon enfatiza a necessidade de um apoio governamental mais robusto e uma abordagem crítica em relação às normas internacionais que atuam como barreiras comerciais. Ele ressalta que a visibilidade da agricultura brasileira, que já demonstra altos índices de sustentabilidade, é fundamental para transformar a realidade do setor e do Brasil como um todo.
Segue a íntegra da entrevista.
Antônio Oliveira – Vamos iniciar esta entrevista com o senhor nos dizendo quem é Maurício Buffon e como chegou ao agronegócio. Um pequeno perfil pessoal e profissional.
Maurício Buffon - Sou filho e neto de produtores rurais, com raízes na agricultura, especialmente na produção de soja. Minha família migrou para Mato Grosso nos anos 1980 para trabalhar com soja, e eu me mudei para Tocantins em 2009. Foi dentro da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho) que comecei minha trajetória como líder classista. Fundamos a Aprosoja Tocantins em 2013, onde fui sócio-fundador. Posteriormente, atuando junto à Aprosoja Brasil, trabalhei por 11 anos até alcançar a presidência da entidade. É um orgulho e satisfação estar à frente dessa entidade, considerando seu tamanho e importância na defesa dos interesses dos produtores rurais.
Antônio Oliveira – Como o senhor avalia as políticas públicas recentes do Governo Federal em relação ao setor agrícola e quais mudanças o senhor gostaria de ver para apoiar os produtores rurais neste início de safra?
Maurício Buffon - Do nosso ponto de vista, a atuação do Governo Federal na agricultura atualmente está aquém do esperado. Os investimentos são insuficientes, e muitos recursos que deveriam chegar aos produtores estão sendo inviabilizados, frequentemente sob a justificativa de questões ambientais. Essa situação resulta em uma escassez significativa de recursos para o setor produtivo, o que, no futuro, pode ter um custo elevado devido à diminuição da produção agrícola, especialmente de soja e outros produtos. Sentimos que a produção está seriamente comprometida pela falta de crédito, uma vez que a lavoura requer investimento. Infelizmente, o Governo Federal não tem feito os aportes necessários para o setor.
Antônio Oliveira - As gestões anteriores da Aprosoja Brasil e das Aprosojas regionais se envolveram na política partidária durante a presidência de Jair Bolsonaro, chegando até a assinar outdoors de campanhas e autoafirmação do ex-presidente. Embora cada um tenha o direito de apoiar livremente suas preferências políticas, o senhor não considera que a participação da entidade nesse contexto foi uma decisão arriscada? O senhor faria o mesmo na sua gestão?
Maurício Buffon - Em relação à política pública e à gestão anterior que apoiou o Governo Federal, respeitamos essa decisão. Não temos objeções, especialmente porque a associação depende fortemente de políticas públicas. Naquele período, os produtores se sentiam seguros, principalmente em termos de segurança jurídica, graças ao apoio do Governo Federal. Por isso, a diretoria anterior manifestou seu apoio ao governo. No entanto, ao se aproximar das eleições, acredito que devemos ter cautela. Pessoalmente, se decidir apoiar um candidato, me licenciaria do cargo para fazer isso, caso seja necessário. A associação deve seguir seu caminho, e essa é uma escolha que cada presidente deve respeitar. É importante destacar que a principal atuação da Aprosoja é na defesa de políticas públicas, contribuindo para a elaboração de leis e regulamentações que beneficiem os produtores. Às vezes, a política se entrelaça com essas ações, dado que estão muito próximas.
"Fizeram um decreto para tentar ajudar a diminuir os incêndios, mas um decreto não apaga fogo; quem apaga fogo é quem está trabalhando"
Antônio Oliveira - Embora tenha moral e experiência para ser conselheiro de governos, a instituição Agronegócio tem se desgastado em situações partidárias e ainda faz forte oposição, principalmente ao presidente Lula. Não seria melhor, para o contexto geral, sentar-se à mesa e promover o diálogo que beneficiaria o Agro e o Governo?
Maurício Buffon - Com certeza, uma mesa redonda é importante e necessária, né? Já estamos buscando algum nível de conversação, mas o governo também tem que dar um passo a mais. Precisamos de vários exemplos onde é necessário agir com mais frequência para que o governo atenda o setor, e não estamos vendo isso por parte do Governo Federal, seja em recursos, seja em políticas públicas que façam com que a produção brasileira seja pujante. E o governo não está nos dando esse respaldo. Então, esse é o problema, mas não vamos deixar de participar e buscar o diálogo, porque isso é importante. Sempre que houver uma medida do governo que atenda o produtor rural, estaremos juntos para apoiá-la. Mas, quando as coisas não estão funcionando como esperamos, faremos as críticas necessárias. Acredito que precisamos ter diálogo, e as questões públicas devem ser muito maiores que as partidárias, principalmente quando se trata de produção de alimentos, que envolve uma série de questões. Diminuir a produção de alimentos é aumentar o preço dos alimentos nas gôndolas dos supermercados, gerando inflação, e quem mais sofre é a população com menos recursos para comprar alimentos. Isso deve ser sempre levado em consideração, e precisamos incentivar a produção de alimentos. Nesse contexto, estaremos sempre em defesa do produtor rural.
Em meio a dificuldades e atraso do período chuvoso, o Brasil deu início o
plantio da safra 2024/2025 de soja (Foto: Antônio Oliveira)
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Antônio Oliveira - Se essa mesa redonda fosse possível, o que o senhor, como dirigente de uma das grandes instituições do Agro, proporia ao atual governo federal?
Maurício Buffon - Em relação à oposição ao governo do presidente Lula, temos críticas, pois sentimos que está faltando muito recurso e empenho do governo federal, sempre usando a questão do meio ambiente. Temos vários decretos que, entre aspas, protegem o meio ambiente, mas que, na prática, não protegem. A questão do fogo é um exemplo disso. Fizeram um decreto para tentar ajudar a diminuir os incêndios, mas um decreto não apaga fogo; quem apaga fogo é quem está trabalhando. O produtor vem se esforçando muito nisso e está sendo o maior prejudicado por estar queimando seu solo e ainda sendo punido por um decreto mal elaborado do governo. Nesse momento, estamos com muita cautela. Não sairemos de nenhuma mesa de negociação onde o governo federal estiver presente; queremos dialogar, mas o governo precisa começar a olhar para o setor como ele realmente é. Não pode punir o setor, pois isso terá consequências, como a diminuição da oferta de produtos, de soja, de milho e de alimentos em geral, o que também prejudica o governo. Não queremos isso e não vamos sair de nenhuma mesa de negociação onde formos convidados para debater os problemas do setor. Mas atuaremos com segurança, sempre em defesa do produtor rural.
Antônio Oliveira – O Plano Safra do Governo para o Agronegócio está defasado? O que deve ser mudado nele?
Maurício Buffon - O Plano Safra 2024-2025 foi anunciado com um volume record de recursos, mas isso não está se concretizando. Quando olhamos para o recurso controlado, que é onde o governo realmente tem participação, o volume é muito baixo e não está atendendo ao setor produtivo de forma alguma. Temos críticas ao Plano Safra, e o governo precisa rever isso, pois está muito amarrado em novos decretos que restringem o crédito ao produtor. Para ter uma ideia, estamos com 50% do Plano Safra executado com dinheiro público e menos ainda com dinheiro privado, devido a muitas regras impostas nesse plano. Sabemos que o Plano Safra deveria atender o setor produtivo. As chuvas estão retornando agora, e já estamos em final de outubro; o Brasil inteiro está plantando, e com menos recursos, essa safra não dará o resultado esperado, que seria muito bom, com uma perspectiva de clima melhor. Mas, com menos recursos, essa safra ficará comprometida. O governo federal precisa rever as questões do Plano Safra, e muitos ajustes devem ser feitos, inclusive para liberar recursos que o produtor possa investir em suas propriedades e aumentar a produção de alimentos.
Antônio Oliveira - O senhor chegou à presidência da Aprosoja em um estado que, praticamente, dá seus primeiros passos nos agronegócios e na agroindústria. O que o senhor espera do Tocantins no contexto nacional da produção agrícola, principalmente dos grãos soja e milho?
Maurício Buffon - Na questão do Tocantins, na área da agricultura e da agroindústria, acredito que essa é a grande vocação do Estado. Espero que quem esteja no poder do governo do Estado consiga enxergar isso, facilitando a entrada de novas indústrias e respeitando principalmente o nosso Código Florestal na liberação de novas áreas para plantio. Hoje, temos o Estado do Tocantins com 1,5 milhão de hectares produzindo soja e milho de segunda safra em parte dessa área. Na minha visão, precisamos que o Tocantins aumente essa produção para 2 milhões e meio de hectares, incorporando mais 1 milhão de hectares para lavoura. Isso daria cerca de 6 a 7% do território do Tocantins, mas assim o estado teria uma agroindústria mais forte para se desenvolver. A junção da agricultura com a agroindústria fará muita diferença, principalmente no contexto das carnes, sejam suínas, de frango ou bovinas. A agroindústria traz essa força, gerando trabalho, riqueza e empregos para o Estado. Essa conjuntura precisa de um aumento ainda de área no Tocantins, lógico, respeitando todas as leis ambientais e o Código Florestal. Assim, o estado se tornaria muito mais forte. Acredito muito no Tocantins e tenho todos os meus investimentos atuais dentro do estado por acreditar em seu potencial.
Antônio Oliveira – O potencial agrícola e logístico do Tocantins pode torná-lo um dos maiores estados agrícolas e agroindustriais do Brasil?
Maurício Buffon - Certamente, o Tocantins tem o potencial de se tornar um estado muito relevante no contexto do MATOPIBA, desde que continue avançando. Acreditamos que se tornará um dos polos da região, especialmente devido à sua logística e posição geográfica, que favorecem o transporte, como é o caso da Ferrovia Norte-Sul. Além disso, a exploração da hidrovia do Tocantins, embora ainda seja um projeto em desenvolvimento, é uma iniciativa que precisa ser implementada. O Tocantins deve desempenhar um papel fundamental nesse cenário do MATOPIBA.
Antônio Oliveira – E o que esperar do MATOPIBA?
Maurício Buffon - O MATOPIBA, de maneira geral, é extremamente importante para a produção agrícola e é uma região com uma população significativa. Os municípios do MATOPIBA onde a agricultura já está consolidada apresentam índices melhores do que aqueles onde ela ainda não se desenvolveu. Portanto, o que esperar do MATOPIBA? Esperamos que a agricultura, respeitando todas as questões ambientais, consiga impulsionar a economia desses estados, beneficiando a população e o próprio governo com uma maior arrecadação de impostos, que poderá ser aplicada em políticas públicas para toda a sociedade. Acredito que o MATOPIBA produtivo fará essa região evoluir e ajudará a reduzir os índices de pobreza que ainda persistem nos estados que compõem o MATOPIBA, onde a agricultura ainda está em fase inicial. Precisamos de uma agricultura mais robusta, pois ela trará uma realidade muito diferente para esses estados.
Antônio Oliveira – Como enfrentar os países que cobram do Brasil responsabilidade social e ambiental, sob pena de cortar importações de produtos agropecuários do Brasil?
Produção de soja na região centro-norte do
Tocantins (Foto de arquivo: Antônio Oliveira)
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Maurício Buffon - Precisamos enfrentar a questão das leis antidesmatamento e da moratória na agricultura brasileira e na América do Sul. Acreditamos firmemente no Código Florestal Brasileiro; o governo e a sociedade civil precisam se empenhar para demonstrar ao mundo que o Brasil está cumprindo sua parte em relação às questões ambientais. No entanto, não podemos aceitar todas as normas sem questionar. O Brasil deve estabelecer algumas leis que imponham suas condições aos países que também exportam para nós. Assim, acreditamos que a agricultura brasileira possui um grande potencial de sustentabilidade.
É importante lembrar que a questão ambiental é frequentemente utilizada como uma cortina de fumaça para barrar a produção brasileira, funcionando, na verdade, como barreiras comerciais impostas por países que competem com o Brasil no mercado. Por ser altamente competitivo, o Brasil acaba sendo alvo dessas estratégias. Precisamos entender a moratória e as leis de desmatamento como restrições comerciais que muitos países usam apenas como justificativa para nos impedir de avançar.
"O Brasil já tem um Código Florestal, e exigir algo a mais é ferir a soberania nacional. Acredito que os governos estão certos"
O Brasil possui uma agricultura altamente sustentável, preservando todas as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e mantendo entre 20% a 80% de preservação nas propriedades, inclusive na região do MATOPIBA. Contudo, muitas pessoas não veem o que está sendo feito. Precisamos destacar isso, e o governo deve nos apoiar com algumas legislações.
Antônio Oliveira – Como o senhor analisa o Projeto de Lei nº 2256/2023, que estabelece critérios objetivos para a concessão de incentivos fiscais e terrenos públicos a empresas no âmbito do Estado de Mato Grosso? O projeto busca desestimular acordos comerciais, como a Moratória da Soja, que desrespeitam a Constituição Federal e as leis brasileiras. Acredita que essa medida deveria ser seguida pelo Governo Federal?
Maurício Buffon - Acreditamos que os estados devem agir fortemente contra a moratória e a lei de desmatamento. Apoio as leis que já foram feitas, onde o governo retira incentivos de empresas que adotam políticas mais restritivas do que as que o Brasil já possui. O Brasil já tem um Código Florestal, e exigir algo a mais é ferir a soberania nacional. Acredito que os governos estão certos. Precisamos da união de todos os estados que compõem essa produção, pois não podemos admitir que a produção de soja seja proibida em certas áreas, enquanto a produção de milho, por exemplo, não é afetada pela mesma moratória. Essas leis são, na verdade, barreiras comerciais que limitam a produção rural e a preservação. Apoiamos a iniciativa dos estados, e se todos os estados fizerem isso, as empresas que estão aqui também unirão os produtores para encontrar uma saída que permita que todos continuem trabalhando, respeitando as leis e beneficiando a sociedade. O grande problema é que temos uma série de municípios ainda deficitários, necessitando de receita, onde não havia infraestrutura adequada, e agora que começam a ter um pouco de infraestrutura, as cidades querem produzir. A produção de soja não pode, mas outras culturas, como cana, podem, ou a criação de suínos. São restrições que afetam apenas algumas culturas, prejudicando a questão comercial entre os países. Dessa forma, não podemos aceitar isso e precisamos que os governos estaduais se organizem, assim como o governo federal, onde nossa base maior é o nosso Código Florestal, que deve ser respeitado.
Antônio Oliveira – Quais suas perspectivas de produção, produtividade e mercado para a safra de grãos que está iniciando?
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Maurício Buffon - Para a safra 2024-2025, tanto de soja quanto de milho no Brasil, principalmente soja, estamos iniciando um plantio um pouco atrasado, com as chuvas retornando na segunda quinzena de outubro. O produtor rural é sempre muito otimista, mas com poucos recursos. Sempre digo que precisamos de vários fatores para produzir, mas três são essenciais: pessoas, clima e recursos. Esses três fatores são fundamentais para a produção. Hoje, o Brasil possui famílias muito preparadas para a produção. As previsões climáticas indicam um clima um pouco melhor para essa safra, mas, ao analisarmos os investimentos feitos, especialmente nas lavouras de soja, notamos um grande déficit. Com menos investimento, acreditamos que o produtor conseguirá colher uma boa safra, mas perderá potencial máximo devido à falta de recursos disponíveis. A agricultura no Brasil não está capitalizada da forma necessária; depende de muitos recursos de empresas privadas e públicas. Com menos recursos, teremos uma safra menor. Vamos torcer para que, pelo menos, o clima ajude e possamos obter uma boa colheita. Essa é a nossa perspectiva, mesmo considerando a falta de recursos, que prejudicará a safra. Contudo, o produtor é sempre muito persistente, e acreditamos que ele conseguirá uma boa colheita para honrar seus compromissos e continuar produzindo riquezas para o país.
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