Por Antônio Oliveira

O Cerrado do Maranhão – no sul do estado -, colonizado a partir do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 é uma das regiões agrícolas que mais crescem no Brasil e onde não há mais a monocultura da soja. A diversidade de cultura é muito grande e a qualidade e produtividade de produtos como a soja, o milho e o algodão surpreendem a cada safra. E ainda há muita terra a ser cultivada, descontando as reservas legais. Contudo, safra após safra, a melhoria das condições de logística, comunicação entre outros fatores, sempre deixam a desejar e são alvo de retóricas de políticos. Verdade que muita coisa foi feita durante a gestão dos últimos governos do Estado e da União. Mas falta muito para que a região se desenvolva plenamente e seja um atrativo de novos investimentos, inclusive na industrialização in loco da sua produção, agregando valor a produção e aos recursos humanos da região.

- O Cerrado maranhense tem um potencial agrícola muito grande e tem potencial para crescer ainda mais, para isso, precisa melhorar os velhos e antigos problemas de logística, comunicação e a falta de um voo regional em Balsas, para atrair novos investidores. Estamos fazendo a nossa parte, investindo em tecnologia, gerando renda, emprego, impostos e incluindo pessoas – corrobora comigo o produtor rural, presidente da Fundação de Apoio a Pesquisa no Corredor Norte de Exportação (FAPCEN), Paulo Kreling, que também é vice-presidente da Associação dos Produtores da Serra do Penitente e vice-presidente da Federação Brasileira Plantio Direto na Palha para o Estado do Maranhão.

Eu tive um bate-papo com o produtor que é dos pioneiros do desenvolvimento do Cerrado maranhense. Nesta conversa, falamos – como não poderia deixar de ser -, de safras colhida, plantada e a ser plantada; de produção e produtividade e dos velhos problemas estruturais da região para os quais não só criticamos, mas apontamos soluções. Falamos, também, da Agrobalsas 2023, evento de tecnologias para a agropecuária realizada anualmente em Balsas – o coração comercial e estrutural do Cerrado maranhense.

- As perspectivas do Agrobalsas 2023, a maior feira de agronegócio do Maranhão, são as melhores possíveis, estamos investindo em melhorias na infraestrutura da Fazenda Sol Nascente. Tivemos aumento significativo na procura para expor a marca de novas empresas, acreditamos no aumento de negócios e de público, teremos um Agrobalsas maior e melhor – disse ele.

Segue a entrevista.

Paulo Kreling, produtor e presidente da Fapcen e Agrobalsas (Foto: acervo pessoal)

Centro-Oeste Farm News (COFARMNEWS) – Presidente, preliminarmente nós agradecemos por esta entrevista ao nosso site.

Paulo Kreling – Eu que agradeço por essa oportunidade, estou à disposição.

COFARMNEWS – É aquela velha rotina do produtor rural: colheu uma safra, já se inicia outra e as expectativas se renovam. Que balanço o senhor faz da safra 2022/2023 na região? Isto em termos de condições climáticas, produção, produtividade e retorno econômico para os produtores da região.

Paulo Kreling – Exatamente, o produtor rural não para, sempre fazendo o planejamento da próxima safra. Tivemos uma excelente safra 2022/2023 de soja, produtividade média da região acima de 60 sc/ha (3.600 kg /ha).

O retorno econômico será baixo. Tivemos um custo alto dos insumos, principalmente fertilizantes, e o preço da soja caiu muito no mercado internacional, em função de uma safra recorde no Brasil. Prêmio negativo de U$ 2,00 / bushel, e câmbio.                                                                                                                                    

COFARMNEWS – As condições climáticas deste início de safra na região animam os produtores? E o que esperar como retorno da safra atualmente em plantio, dado o contexto político, econômico e dos reflexos da guerra da Rússia contra a Ucrânia?

Paulo Kreling – Sim, sem dúvida, foi um ano excepcional, em que deu tudo certo, graças a Deus. Não faltou chuva, correu dentro da normalidade.

Quanto ao plantio da próxima safra, a preocupação é grande, em função dos preços baixos das commodities agrícolas (soja e milho), custos altos, não fecha a conta. Hora de repensar e reduzir custos da porteira para dentro; temos o problema de falta de crédito e juros altos, e risco geopolítico de logística em função da guerra da Rússia e Ucrânia, podendo haver atraso na entrega de fertilizantes, matéria prima importada e de maior custo.

COFARMNEWS – Já se pode dizer que no Cerrado maranhense o agronegócio,  porteira a dentro, é bem diversificado?

Paulo Kreling - Com certeza, somos uma fronteira agrícola consolidada, eficiente da porteira para dentro, precisamos ter controle eficiente do processo produtivo, gestão, eficiência operacional, equipe motivada, eficiente e comprometida.

"Com certeza, somos uma fronteira agrícola consolidada, eficiente da porteira para dentro, precisamos ter controle eficiente do processo produtivo, gestão, eficiência operacional, equipe motivada, eficiente e comprometida" (Foto: acervo pessoal)

COFARMNEWS – Presidente, o potencial produtivo do Cerrado maranhense é muito grande e crescente desde a chegada dos primeiros produtores rurais na região. Contudo, há alguns gargalos que impedem o investimento em agroindústrias que agreguem valor à produção da região. Entraves como, por exemplo, deficiência nas comunicações, em estradas e na falta de aviação comercial com um aeroporto na região central do polo de agro no Cerrado maranhense. Gostaria que o senhor comentasse sobre estas velhas questões.

Paulo Kreling – O Cerrado maranhense tem um potencial agrícola muito grande e tem potencial para crescer ainda mais, para isso, precisa melhorar os velhos e antigos problemas de logística, comunicação e a falta de um voo regional em Balsas, para atrair novos investidores. Estamos fazendo a nossa parte, investindo em tecnologia, gerando renda, emprego, impostos e incluindo pessoas.

COFARMNEWS – Acrescente a este leque de barreiras e de soluções um ramal ferroviário ligando a região de Balsas a Ferrovia Norte-Sul.  O que significaria esse modal para logística regional?

Paulo Kreling – A viabilização desse ramal ferroviário é importante para agilizar o escoamento da nossa produção, melhorar a eficiência, favorecendo na redução de custo.

COFARMNEWS – O senhor é presidente da Fapcen (Fundação de Apoio a Pesquisa no Corredor Norte de Exportação), instituição que promove todos os anos a feira de tecnologias para os agronegócios, Agrobalsas, uma grande vitrine do potencial produtivo da região e das empresas de máquinas, implementos, insumos e serviços. Diante dos resultados da safra recém colhida e das perspectivas da próxima, o que esperar como resultados da feira deste ano?

Paulo Kreling – O nosso grande desafio é superar o Agrobalsas 2022, que foi excelente e bateu recorde de público e de negócios.

As perspectivas do Agrobalsas 2023, a maior feira de agronegócio do Maranhão, são as melhores possíveis, estamos investindo em melhorias na infraestrutura da Fazenda Sol Nascente (local permanente da feira). Tivemos aumento significativo na procura para expor a marca de novas empresas, acreditamos no aumento de negócios e de público, teremos um Agrobalsas maior e melhor.

COFARMNEWS – A Agrobalsas sempre foi, também, uma grande mesa redonda de produtores rurais e governantes dos três entes federados. O que levar à esta mesa e o que esperam os produtores de seus governantes neste ano?

Paulo Kreling - Levaremos reivindicações políticas e não partidárias para serem debatidas com os nossos governantes e, em conjunto, acharmos soluções para os nossos problemas de logística, comunicação, voo regional e segurança no campo.

“Fazer na hora certa; bem feito; no capricho; com conhecimento técnico; com paixão.” (Dirceu Gassen)

COFARMNEWS – O BNDES e o Ministério da Agricultura anunciaram, no dia 25 abril, recursos da ordem de R$ 2 bilhões em linhas de crédito para operação em dólar para a aquisição de máquinas, silos etc. para produtores que operam na moeda norte-americana. Gostaria de comentar sobre esta medida?

Paulo Kreling – Medida importante, porém o montante de recursos não é o suficiente, para atender a demanda do agronegócio. Infelizmente, estamos enfrentando a falta de crédito e juros altos, podendo inviabilizar a nossa atividade.

Esperamos que o Governo Federal reavalie e possa viabilizar um aumento de recursos significativos para o agronegócio, com taxa de juro combatível a atividade.

COFARMNEWS – Presidente, eram estes os nossos questionamentos. O espaço está livre para mais informações que o senhor achar necessárias e deixar uma mensagem para seus colegas de campo e aos demais atores diretos e indiretos do agro.

Paulo Kreling – Gostaria de dizer a todos os Produtores Rurais, para que possamos ter sucesso na nossa atividade, precisamos continuar investindo em tecnologia, perfil de solo, assistência técnica, cobertura do solo com palhada, plantio direto na palha, genética e equipe.

Seguindo os ensinamentos do nosso sempre lembrado Dr. Dirceu Gassen:

“Fazer na hora certa; bem feito; no capricho; com conhecimento técnico; com paixão.”