Por Antônio Oliveira

Uma das principais lideranças femininas da aquicultura brasileira, Marilsa Patrício Fernandes é presidente-executiva da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (PeixeSP) e principal executiva da Aquishow Brasil, feira de tecnologias para a aquicultura. Dinâmica e, atualmente, diante de uma série de problemas, não se abateu e apresentou, nestes dias, o que vem a ser mais uma edição do evento (23 a 25 de maio) que de tão crescente, saiu da pequena Santa Fé para a São José do Rio Preto, consolidando o evento como internacional.

A executiva não luta apenas nas trincheiras de defesa da aquicultura paulista e brasileira. Embora tenha fugido de uma pergunta nossa – e ela tem lá suas razões -, tem juntado força com as lideranças da iniciativa privada e da política para o desenvolvimento social e econômico da região. (Que a classe político-partidário não tenha ciúmes: nem partido político a dona Marilza tem. Faz o que todas as lideranças apartidárias deveriam fazer: somar com a classe política).

Marilsa abre a série “Mulheres da Aquicultura”, do CONFARMNEWS e nesta entrevista fala um pouco da sua carreira profissional; da participação da mulher na aquicultura, sobre o agronegócio como um todo e do que ela mais gosta: a aquicultura e a organização da Aquishow.

Segue a íntegra da entrevista

Marilsa P. Fernandes é a principal coordenadora da Aquishow Brasil (Foto: Aquishow Brasil)

Centro-Oeste Farm News -  (COFARMNEWS) - Olá, dona Marilsa,  temos muito prazer em tê-la como nossa entrevistada.

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES - Muito obrigada Antônio Oliveira, tenho pessoalmente muita satisfação e alegria em participar dessa série Mulheres da Aquicultura e contar um pouquinho da nossa história para você que é um dos mais sérios e comprometidos jornalistas do agronegócio do Brasil.

COFARMNEWS  Quem é Marilsa Patrício?

Sou natural de Birigui (SP), mas cresci na região de Santa Fé do Sul; filha de mãe professora e de pai produtor rural, que tinha a agricultura e pecuária de leite e corte como atividades na sua propriedade rural. Com isso,  vivi toda a minha infância e adolescência as pelejas do meu pai com a atividade agropecuária com todas as suas sazonalidades, alegrias e,  às vezes, alguns insucessos. Isso me deu a origem da qual tenho muito orgulho.

COFARMNEWS  Como entrou na aquicultura, tornando-se, entre homens e mulheres, numa das maiores lideranças da aquicultura paulista e brasileira?

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES - Nos idos de 1970, no decorrer da construção do complexo Urubupungá e da barragem de Ilha Solteira com a inundação do reservatório, as melhores terras da região ficaram submersas, o que provocou um êxodo rural bastante significativo, resultando na mudança da economia regional. Eu ainda era criança, mas tenho os registros de como foram marcantes as mudanças nas vidas das pessoas e das comunidades afetadas pela inundação. No início da década de 1990, houve uma iniciativa do sentido de desenvolver a piscicultura na região que deu em nada, tendo em vista a falta de uma espécie com pacote tecnológico e de um efetivo aporte de incentivos. Já nos anos 2004, quando foi criada a Secretaria de Aquicultura e Pesca (SEAP), eu trabalhava na prefeitura de Santa Fé do Sul com o prefeito à época, e enxergamos a oportunidade de desenvolver na cidade e região a tilapicultura, espécie que já se apresentava como um bom potencial para a produção em tanques rede. Foi quando a aquicultura entrou de vez na minha vida.

COFARMNEWS  Pelo pouco que conheço da senhora, vejo-a na condição de protagonista do desenvolvimento social, econômico e estrutural. Bandeira que empunha sem enraizamento na política partidária. Conte para nós este papel à serviço da região, via de regra do estado de São Paulo.

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES  - Acredito na aquicultura como fator de desenvolvimento local, de distribuição de renda e consequentemente de melhoria na qualidade de vida das pessoas nas comunidades onde a aquicultura existe, por isso faço no dia a dia da minha vida uma luta pela consolidação da atividade, lógico que em função de eu ser do estado de São Paulo nossa atuação predominantemente se dá em território paulista, contudo creio que tenhamos ações que possam servir de exemplo para outros estados e regiões com potencial produtivo.

COFARMNEWS  Esta atuação não causa ciúmes na classe político-partidária da região?

(Acha graça) Gostaria de dizer que não, mas às vezes fica a sensação que sim...

Plenária da edição 2022 da Aquishow Brasil (Foto: Aquishow Brasil)

COFARMNEWS –A senhora já teve interesse na política partidária, chegar a um cargo eletivo ou nomeado em governos?

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES - Quando me perguntou como entrou na aquicultura, no ano de 2004, eu fazia parte da equipe do governo municipal de Santa Fé do Sul, o que me possibilitou articular regionalmente o início da produção de tilápia no noroeste paulista. 

COFARMNEWS  Como a senhora analisa a atual relação agronegócio e sociedade urbana; agronegócio e governos?

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES - O agronegócio é um setor econômico significativamente  importante para o Brasil e o mundo, pois envolve cadeias de produção alimentar que interligam vários setores, como a agricultura, a pecuária e a indústria, além do comércio que consome seus produtos. Vejo a relação do agronegócio com a sociedade urbana, que em algumas vezes e situações, parece ser conflituosa como resultado da desinformação e da manipulação de informações por determinados segmentos que usam o desconhecimento e a ignorância para promover antagonismos desnecessários. Acho que são segmentos interdependentes, qualquer incompreensão dessa interdependência pode ser ruim para todos.  

COFARMNEWS  O que sugeriria para melhorar estas relações?

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES - Antes eu diria que o conhecimento e a educação seriam o caminho. Hoje em dia não sei mais. Tudo está tão bizarro que não sei se há alguma maneira para melhorar as relações entre esses dois mundos, talvez fazer chegar informações sem distorções que esclareçam para as sociedades urbanas a realidade do agronegócio e a responsabilidade social e ambiental que permeiam o agronegócio no Brasil seja uma estratégia. 

COFARMNEWS  E quanto a área onde atua com especial dedicação, a aquicultura. Sabe-se que ele cresce de vento em popa. Na sua opinião, o que ainda freia o segmento?

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES   Penso que a aquicultura, principalmente a praticada pelos pequenos produtores, ainda depende do incentivo e da promoção de políticas públicas, tais como: sistema de crédito para financiamentos de projetos, seguro, etc. Precisa também de maior estabilidade no que se refere ao incentivo dos órgãos de licenciamentos. E, outras pautas como a política fiscal para o setor. Não é possível sejamos tratados de formas diferentes de demais cadeias e que por exemplo, a cobrança de PIS/COFINS incida sobre a ração para organismos aquáticos. Há um potencial imenso a ser explorado, na aquicultura brasileira e todas as iniciativas de desenvolvimento precisam estar bem estruturadas e isso passa necessariamente pela organização do setor.

COFARMNEWS  Na sua opinião, a mulher está tendo espaço no setor? Sua participação poderia ser maior?

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES - O agronegócio ainda é dominado por homens, mas na aquicultura as mulheres estão cada vez mais ocupando os espaços profissionais e sendo reconhecidas pelos resultados que tem alcançado. Creio que o olhar sistêmico feminino é um dos diferenciais que vão cada vez mais reforçar o trabalho e a importância da mulher na aquicultura brasileira.

Marilsa em entrevista para a afiliada da Globo no oeste paulista (Foto: Aquishow)

COFARMNEWS  Vem aí, em maio, mais uma edição da Aquishow Brasil. Quais são suas expectativas?

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES - Vamos fazer o melhor e mais completo evento da aquicultura brasileira. Como você sabe,  fazemos uma unidade demonstrativa de produção, com os equipamentos e produtos das empresas expositoras em atividade durante no decorrer do evento. A tilapicultura é a protagonista da Aquishow Brasil, mas a partir deste ano, outras cadeias da aquicultura como o aquarismo/ornamentais, ranicultura, algicultura, malacocultura, jacaricultura e aquaponia, também estarão presentes. Nossa expectativa possibilitar realizações de negócios, para tanto estamos organizando caravanas de produtores de vários países que virão no evento para comprar produtos, serviços, insumos, tecnologias e as inovações que estarão disponíveis no evento. A Aquishow Brasil será uma alavanca para a realização de negócios, marketing para as empresas, criação de novos mercados, efetivação de network, e de acesso às inovações e tendências nacionais e internacionais do setor, consequentemente fomento ao crescimento econômico da atividade.

COFARMNEWS  - Qual será o espaço e eventos voltados para a mulher da aquicultura na Aquishow deste ano?

MARILSA PATRÍCIO FERNANDES  - Pelo segundo ano será realizado o painel “Papel e contribuições de mulheres para a aquicultura brasileira”, que será sempre um dos conteúdos do evento. Nesse painel, mulheres da aquicultura relatam suas experiências pessoais e profissionais desde que começaram na atividade. Igualmente, estamos aumentando a participação feminina na grade de palestras, neste ano mais mulheres estarão conduzindo e apresentando temas relevantes para a aquicultura. Acredito que chegaremos num tempo em que homens e mulheres terão participação igualitária na sociedade e assim será na aquicultura.