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MULHERES DA AQUICULTURA – “Nosso objetivo não é superar os homens e, sim, gerar equidade na atuação profissional. Todos temos as nossas habilidades e talentos”, diz Fernanda Queiroz e Silva
Data de Publicação: 19 de abril de 2023 09:01:00 Extensionista rural em aquicultura, com atuação em Joinville (SC), a oceanógrafa Fernanda Queiroz é mais um exemplo da força da mulher na aquicultura brasileira. Nesta entrevista, com participação da jornalista paulista Mariele Previdi, ela fala sobre sua carreira e sobre a aquicultura brasileira no seu estado e no Brasil. #mulheres da aquicultura #aquicultura #força feminina #força das mulheres #entrevista #fernanda queiroz e silva
Por Antônio Oliveira
Na medida em que a aquicultura, principalmente a piscicultura, no Brasil vai crescendo, cresce também o número de mulheres envolvidas com o setor e seus segmentos. Mas as mulheres visam superar os homens nas carreiras profissionais, empreendedoras e na política? “Não, de forma alguma. O objetivo não é superar os homens, e sim, gerar equidade na atuação profissional. Todos temos as nossas habilidades e talentos. Acredito que juntos somos melhores do que individualmente, independentemente do gênero”, diz a oceanógrafa e técnica em aquicultura da Prefeitura de Joinville (SC), Fernanda Queiroz e Silva. Ela é a 4ª entrevistada da série “Mulheres da Aquicultura”, do COFARMNEWS. Conforme estratégia deste site, Fernanda foi indicada por outra mulher da aquicultura, Josiani Demori Raposo, de Panorama (SP), cuja entrevista você pode ler, clicando aqui. “Fernanda vem fazendo um trabalho primoroso na divulgação e engajamento do setor aquícola. Comunicadora maravilhosa ela leva informação através de suas redes e de bônus ensina receitas deliciosas com diversos peixes e frutos do mar. Com seu olhar mais técnico tenho certeza da sua contribuição para uma entrevista inspiradora”, diz, acertando, a piscicultora paulista.
Nesta entrevista, que tem como jornalista convidada, a paulista Mariele Previdi, Fernanda Queiroz e Silva fala sobre o dia a dia de sua carreira profissional; presente e o que poderá ser o futuro da aquicultura brasileira. “A verdade é que o mercado vem buscando profissionalismo de todos os elos do setor. Veja bem o quanto tem se visto em relação a investimentos em material genético, nutrição de precisão, sistemas de cultivo, cuidados com bem-estar animal e sanidade, feiras, grandes eventos do setor, capacitações, softwares, automação e até mesmo inteligência artificial, dentre outros”, diz, entre muitas outras opiniões sobre a aquicultura no Brasil.
Segue a entrevista.
Centro-Oeste Farm News (COFARMNEWS) – Olá Fernanda, é um prazer imenso ter a senhora como entrevistada desta série, uma indicação de sua colega Josiani Demori Raposo, entrevistada que a antecedeu.
Fernanda Queiróz e Silva – Eu é que agradeço pela oportunidade de falar um pouco mais da atuação em campo, minha paixão. Muito obrigada, Josi, pela indicação. Ela é uma inspiração para mim e para muitas. É a personificação de que nós, mulheres, podemos estar onde quisermos e sermos quem somos. Muito obrigada pelo carinho.
COFARMNEWS – Fernanda Queiróz por ela mesmo.
Fernanda – Sou muitas em uma só. Sou catarinense, completamente apaixonada pela Piscicultura e pela Extensão Rural. Faço meu trabalho com amor e sinto que a minha atuação profissional é meu propósito de vida. A cada dia me envolvo mais com a Piscicultura. Sou sedenta por conhecimento e por conexões entre as pessoas, penso que todos os dias temos oportunidades de aprender algo novo. Há 12 anos atuo em campo diretamente com pequenos piscicultores do município de Joinville com extensão rural. Desde 2015 também sou umas das colaboradoras da Acqua Sul Piscicultura no controle de qualidade dos alevinos de tilápia. Em 2020, em meio a pandemia, criei um canal no YouTube chamado “Peixe é o meu Negócio!”, onde entrevistava especialistas do setor. Em 2022 fui convidada a fazer parte do canal #VaiAqua como apresentadora ao lado do pesquisador Fábio Sussel. Atuo também como instrutora e palestrante com temas sobre qualidade de água, extensão rural e a atuação das mulheres na aquicultura.
COFARMNEWS – A sua formação acadêmica é a oceanografia, mas a senhora está na extensão técnica em aquicultura. Por que esta mudança de rumos?
Fernanda – Um bom mestre tem o poder de inspirar a escolha profissional de um aluno, não é mesmo? Tive a honra e o privilégio de ser aluna e, posteriormente orientada, do falecido pesquisador e médico veterinário professor de Aquicultura da turma de Oceanografia da UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí) Hilton Amaral Júnior. As aulas dele eram incríveis. Descobri assim minha paixão: piscicultura. Logo em seguida, pedi estágio no Centro Experimental de Piscicultura Continental (CEPC) da EPAGRI (Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de Santa Catarina), em Camboriú, aliando conhecimento teórico, dentro de sala de aula, com conhecimento prático, de campo, o que chamo de “vida real”. Professor Hilton me orientou a ir em busca de mais conhecimento na área, então fiz o Mestrado em Aquicultura e Pesca no Instituto de Pesca de São Paulo, retornando para Santa Catarina em 2009. A extensão rural foi amor à primeira vista, esta oportunidade me foi dada no Setor da Piscicultura, quando passei no concurso público em busca de uma oportunidade de trabalho na área, na antiga Fundação Municipal de Desenvolvimento Rural 25 de Julho, atualmente Unidade de Desenvolvimento Rural da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação da Prefeitura Municipal de Joinville. Gosto bastante de desafios e de ir em busca de novos conhecimentos - na extensão temos desafios diariamente. A missão do extensionista é ampla e complexa, sigo aprendendo, principalmente depois das parcerias com o grande Jorge de Matos Casaca, médico veterinário e extensionista rural da região Oeste de Santa Catarina. Cresço e me desafio diariamente com as provocações e falas deste mestre, extensionista há mais de 40 anos.
COFARMNEWS - A aquicultura é mais apaixonante que a oceanografia?
Fernanda – O campo de atuação do oceanógrafo é bastante amplo, temos as áreas de oceanografia: física, geológica, química, mas minha área predileta sempre foi a biológica, desde a época do colégio. E foi bastante interessante que, quando li alguns livros para a prova do mestrado em Aquicultura e Pesca para no Instituto de Pesca de São Paulo, sob orientação da querida professora Elizabeth Romagosa, me dei conta da complexidade da aquicultura. Muitos dos livros versavam também sobre temas como: oceanografia física e química. Ou seja, os conhecimentos se complementam, aquicultura e oceanografia.
COFARMNEWS – Na sua opinião o que o Brasil e o mundo podem esperar da aquicultura brasileira?
Fernanda – Nosso Brasil tem muitas qualidades e muitas riquezas: água em abundância, excelentes pesquisadores, universidades com cursos de destaque em aquicultura, matérias-primas, empresas de insumos e equipamentos, tecnologias, grandes eventos, mercado consumidor e por fim, mas não menos importante, pessoas comprometidas com o setor. Espero crescimento através do profissionalismo, uso de tecnologias em prol do desenvolvimento da aquicultura com sustentabilidade.
COFARMNEWS – E as piscicultoras e piscicultores brasileiros estão no caminho certo para atingirem o que a senhora prevê?
Fernanda – A verdade é que o mercado vem buscando profissionalismo de todos os elos do setor. Veja bem o quanto tem se visto em relação a investimentos em material genético, nutrição de precisão, sistemas de cultivo, cuidados com bem-estar animal e sanidade, feiras, grandes eventos do setor, capacitações, softwares, automação e até mesmo inteligência artificial, dentre outros. Tudo isso visando um setor mais profissional, organizado, eficiente e que busca uma melhor qualidade do seu produto final. A oportunidade está nas mãos destas piscicultoras e piscicultores que desejam ser mais competitivos no mercado.
Fernanda Queiroz e Silva, oceanógrafa e extensionista
em aquicultura (Foto: acervo pessoal)
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COFARMNEWS – Estado onde predomina a pesca marinha, como é a piscicultura em Santa Catarina?
Fernanda – Realmente, Antônio, Santa Catarina é destaque nacional quando se fala em proteína aquática, tanto na pesca quanto na aquicultura. Somos referência na aquicultura, na produção de moluscos, macroalgas e também de peixes de água doce. Somos o quinto maior produtor de peixes e o quarto maior produtor de tilápias do Brasil. Lembrando que, majoritariamente, os piscicultores do estado são pequenos produtores, da agricultura familiar, cerca de 90% deles. Acredito que alguns dos fatores que contribuíram para este destaque foram a presença das Universidades e principalmente a atuação da EPAGRI, na extensão rural e pesquisa do Governo do Estado.
COFARMNEWS – No contexto geral das carreiras profissionais, política e empreendedorismo, as mulheres pretendem superar os homens?
Fernanda – Não, de forma alguma. O objetivo não é superar os homens, e sim, gerar equidade na atuação profissional. Todos temos as nossas habilidades e talentos. Acredito que juntos somos melhores do que individualmente, independentemente do gênero. Gosto de trabalhar em equipes multidisciplinares, cada qual com seu ponto de vista, enriquecendo o trabalho, somando esforços e aptidões. Penso que competência não seja questão de gênero.
COFARMNEWS – As próximas três perguntas vêm da jornalista paulista Mariele Previdi, nossa convidada para esta entrevista.
Mariele Previdi – Fernanda, quais os desafios que você enfrenta no trabalho de extensão rural do setor aquícola? Na sua visão, quais os principais pontos de melhoria e oportunidades para o setor?
Fernanda – Meu maior desafio é ser mulher no campo. Mesmo em 2023 encontro bastante resistência e até mesmo falta de respeito por parte de alguns. Quando iniciei era muito pior, mas não me intimidei e aos poucos fui mostrando a minha competência, meu conhecimento e como eu poderia ser uma ferramenta para profissionalizar a atividade da piscicultura em cada propriedade. Posso dizer que nem todos os dias são fáceis. E para o setor, sem dúvida nenhuma, não há crescimento do setor, principalmente para os pequenos e médios piscicultores, sem a extensão rural. É a forma de como as novas tecnologias chegam ao campo, é a ponte entre a pesquisa e o piscicultor. Os gargalos da atividade são principalmente a questão da regularização ambiental e os elevados custos de produção, o que por muitas vezes faz alguns piscicultores desistirem da atividade.
Mariele Previdi – Você está à frente do perfil do Instagram e canal do Youtube #VaiAqua na sessão “Peixe é o meu negócio!”, em que traz conteúdos tanto técnico quanto voltado a consumidores sobre o setor. Como vê a importância da comunicação para o fortalecimento da aquicultura? Você acredita que o brasileiro dá o devido valor à aquicultura?
Fernanda – Interessante a tua pergunta, Marieli, obrigada pela oportunidade em falar sobre este tema. Me descobri comunicadora (e cozinheira, risos!) durante a pandemia. O papel do extensionista é ouvir e também comunicar. Com as ferramentas como o Instagram e o YouTube amplifiquei a voz. Porém, ainda acho que precisamos comunicar melhor para fora do setor. O peixe que sai do viveiro vira alimento, vira um produto. É importante enxergarmos melhor muito além da porteira da propriedade, para a mesa do consumidor final, isso aprendi com equipe do #VaiAqua, Letícia Fernanda Baptiston e Fábio Sussel. Não acho que o brasileiro dá o devido valor que a aquicultura merece e a comunicação para fora do setor é fundamental para quebrarmos paradigmas e mitos. São dezenas de produtos, desde peixes, moluscos, crustáceos, algas, anfíbios e até mesmo répteis. O principal objetivo das postagens semanais de receitas à base de pescado é despertar desejo de consumo e comunicar a versatilidade, sabor e praticidade no preparo, além, claro, da saudabilidade. Temos pescado para todos os gostos, bolsos e ocasiões.
Mariele Previdi – Como vê a participação das mulheres na aquicultura? Avalia que houve evolução no número de mulheres que atuam no setor e que ocupam cargos de liderança? Na sua opinião, quais as contribuições que as mulheres podem dar ao setor?
Fernanda - A participação das mulheres na aquicultura vem crescendo a ganhando força nos últimos anos. Vejo um movimento tão lindo de união e sororidade (união de mulheres em um só ideal e objetivos) se formando oficialmente desde o início de 2021 chamado “Mulheres Aquicultura BR”, e através deste grupo, criado por três piscicultoras, Ofélia Maria Campigotto (SC), Kátia Mastrotto (SP) e Vera Lúcia Pereira (SP), estamos nos sentindo representadas, valorizadas e tendo visibilidade de nossas ações e competências. Temos no grupo inúmeras mulheres em cargos de liderança em todo o Brasil e até mesmo fora dele, elas são exemplo e inspiração para nós, elas nos encorajaram a buscarmos nosso protagonismo e nosso espaço através da nossa competência.
"Minha expectativa é alta em relação às políticas públicas para os pequenos e médios aquicultores, principalmente em relação à extensão rural" (Foto: acervo pessoal)
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COFARMNEWS – E o papel da mulher na aquicultura tem sido importante para o desenvolvimento deste conjunto de culturas?
Fernanda – Sim, o papel de todos é importante. Há muitas vantagens em trabalhar a multidisciplinaridade nas equipes. Há habilidades e competências interpessoais em que as mulheres se destacam, como: temos a tendência a ser mais observadoras, flexíveis, resilientes, empáticas, sensíveis, gerenciar melhor o tempo, processar as distintas formas de linguagem (falada, lida, ouvida e escrita), na colaboração e capacidade de trabalho em equipe, entre outras. Há estatísticas em que empresas têm aumento de 15% na performance quando investem em diversidade de gênero nas equipes.
COFARMNEWS – Um ministério voltado para pesca e aquicultura é mais importante que uma secretaria?
Fernanda – Não me sinto confortável para opinar sobre o que não sei. Atuo tão localmente e, infelizmente, não tenho tanto contato como gostaria com as equipes do Governo Federal. Mas, acredito que o sucesso de qualquer atividade, sendo ela aquicultura ou não, é feita de pessoas engajadas e comprometidas, e isso sei que há na equipe do Ministério.
COFARMNEWS – Mas, e os primeiros passos dados pelo recém criado ministério correspondem as expectativas dos dois segmentos?
Fernanda – Minha expectativa é alta em relação às políticas públicas para os pequenos e médios aquicultores, principalmente em relação à extensão rural. Além, da continuidade aos programas do Plano Nacional do Desenvolvimento da Aquicultura.
COFARMNEWS – Fernanda, muito obrigado por esta entrevista e o espaço está livre caso queira acrescentar mais alguma coisa.
Fernanda – Imagina, eu é que agradeço pela oportunidade de contar um pouquinho mais da minha atuação profissional e da minha paixão pela extensão rural na piscicultura. Fico, como sempre, à disposição. Agora, para dar continuidade a esta série de entrevistas, indico uma carcinicultora do Rio Grande do Norte, que há décadas trabalha na Aquicultura, sendo um exemplo de força da mulher no nosso setor: a bióloga marinha Ana Carolina de Barros Guerrelhas.
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Perguntas e respostas muito bem-concatenadas e com conteúdo. Visibillidade para o site e para a entrevistada, num momento em que a aquicultura catarinense e brasileira estão em fase de franco desenvolvimento. Haverá engajamentos, com certeza. Parabéns!